domingo, 31 de maio de 2009

Me dê uma ilusão, por favor

Apesar de gostar de filmes de todos os gêneros e escolas de cinema, devo meu amor ao cinema a Hollywood. Aos filmes que assistia na sessão da tarde, sessão de gala e sessão coruja, da era pré-locadora e pré-pré-pré-tv a cabo. Mas hoje, sabendo que filmes também são um grande comercial dos padrões estéticos e de comportamento de uma sociedade, assisto-os com muitas ressalvas. Por isso, se na minha puberdade cinéfila alguns artifícios do cinema americano me seduziam, hoje chegam a me irritar. Por exemplo, demonstrações de nacionalismo exacerbado. Se antes me faziam chorar por comoção, hoje é de desgosto mesmo. Quem não se irritou com a cena de Independence Day onde o presidente americano se juntava a uma esquadrilha para combater a nave alienígena? Ou com Matt Damon chorando perante seus familiares no cemitério dos heróis de guerra, com a bandeira americana tremulando ao fundo, no final de "O resgaste de soldado Ryan"? Ou ainda, no filme "A vida é bela", quando um tanque americano liberta os judeus de Auschwitz, o que historicamente foi feito pelos russos? - cena do filme italiano "A vida é bela", que acabou recebendo o Oscar de melhor filme estrangeiro. É verdade que nenhum filme está isento de influenciar cultura, política e economicamente os seus expectadores. Mas os americanos usam e abusam dessa técnica. Ainda mais hoje que a dominação cultural teve seus lucros multiplicados pela globalização. Americano hoje já faz filme pensando não só na bilheteria, mas também e principalmente, nas caixas registradoras. Em enredos e personagens que se desdobrem na concessão de licenciamentos para comércio de quinquilharias. As vezes acontece o processo inverso, cria-se o personagem vendável para depois se chegar à história do filme. Mas pior do que vender miniaturas do Shrek é o cinema contribuir para disseminar o bom-mocismo, a hipocrisia, o falso puritanismo do americano. Americano é tão bom de propaganda ideológica que me faz desconfiar mesmo quando o produto deles é bom. Por exemplo, Barack Obama. O produto, no caso o homem Obama, era tão bom que os marketeiros nem tiveram que tirar cartas da manga para a campanha decolar. Mesmo assim, toda a pirotecnia de comícios e demonstrações de apoio de gente famosa, além daquela corrente pra frente global pela eleição do novo dono do mundo me fez voltar ao passado e ficar com um dedinho do pé atrás. Guardadas as proporções, pensei que os americanos pudessem estar comprando Lula por Obama.

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