domingo, 1 de dezembro de 2013

Vida dura

Quando alguém reclama da vida, eu sempre digo para olhar para baixo, para quem não tem quase nada.
E muitas vezes sou retrucado com um "não quero me comparar com quem está na pior, quero ser mais feliz do que já sou".
Pois eu digo que é bom sim olhar para as vidas desgraçadas pelo destino.
Além de exemplos próximos, recorra também ao cinema, a filmes como "Incêndios".
É a história de Nawal Marwan, narrada a partir da busca de seu passado após sua morte, através de seus filhos gêmeos.
Eles terão que encontrar seu pai e seu irmão desconhecidos, numa epopéia que revelará toda a rica e trágica biografia de Nawal.
Começando pela opressão de quem vive em meio à intolerância política-religiosa, somada ao fato de ser mulher no mundo árabe.
Quando Nawal decide contrariar as regras, começa uma sucessão de acontecimentos que a atiram de encontro a um destino atavicamente cruel, como é o das mulheres árabes que ousam escapar do script machista passado de mãe para filha.
"Incêndios" traz uma estrutura narrativa parecida com "Pontes de Madison", onde uma mãe busca a redenção com seu passado através do perdão dos filhos.
Assim como em "Pontes",descobre-se ao final que o amor de mãe sempre prevalece.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Monsieur Lazhar

Acabo de assistir "Monsieur Lazhar", um filme pequeno e delicado.
Não é filme memorável, mas também não passou despercebido.
A história acontece numa escola canadense do lado francês, onde uma professora recentemente se suicidou in loco e é substituída por um argelino, que também teve sua família morta em um incêndio criminoso.
A desorientação da turma de alunos da professora suicida encontra no professor recém-chegado um conforto inesperado, visto que este também tenta se adaptar à perda da família, ao mesmo tempo em que postula na justiça a condição de refugiado requerendo asilo político.
O filme, ainda que se passe numa escola de classe alta, me fez pensar na importância que o papel do professor sempre teve na formação de cidadãos.
Me fez entender o quanto o professor também é psicólogo, amigo, segundo pai ou segunda mãe.
E me fez lamentar que nosso sistema de ensino está longe de ser uma Brastemp, aliás, não chega a Dako.
Culpa das políticas que priorizam feitos eleitoreiros, em detrimento de investir na maior riqueza que um país pode ter, que é um povo instruído.
Como resultado, em vez de estarmos brigando pela educação, sustentamos debates sobre a maioridade penal, a pena máxima e outras medidas que sabemos paliativas.
O que resolve mesmo é sala de aula, é trazer as cabecinhas para o bem antes que seja tarde.
E fazê-las se apaixonar pelo conhecimento, pelas artes, até pela educação física.
Dizem que o problema não é a porcentagem do PIB, mas a ingerência de verba que resulta em nosso pífio desempenho educacional.
Acho que é tudo isso e mais o desdém, o deixar de lado, o fazer nas coxas, o tô nem aí.
Está faltando amor na sala de aula, como no filme do professor Lazhar.

domingo, 6 de janeiro de 2013

medaaaa...

Nesse fim de semana fui a um parque e dei uma volta no trem fantasma com meu sobrinho de 6 anos.
Pensei que ele fosse ficar com medo, mas quem acabou sentindo um friozinho na barriga fui eu, quando um funcionário travestido de zumbi me deu um susto ao final da volta.
No meu tempo, quando frequentava os parques de exposições agropecuárias da minha cidade, o trem fantasma e a monga ainda eram ícones, mitos do imaginário infantil.
O truque da monga, da bela mulher se transformando no gorila, habitava nosso imaginário de criança a ponto de temer passar uma noite em claro se presenciássemos a metamorfose.
Outro clássico era o festival de terror no principal cinema de bauru, uma semana de exibições de filmaços do gênero, com reprises de "Exorcista", "O iluminado" e outros campeões do gênero.
Era a chance de, lá pelos 10 anos de idade, burlar a censura e adentrar um universo ao mesmo tempo atraente e horripilante, que me custou algumas noites dormindo de luz acesa.
Eram outros tempos, anterior à banalização da violência do circo da mídia, onde invasões de escola com metralhadoras e dar pedaços de gente a cachorros se confunde com séries de ficção e jogos de videogame.
Hoje imagino que os criadores de filmes e séries de terror devem fazer das tripas coração para colocar um produto ao menos decente nas telas.
Definitivamente, os medos atuais mudaram de cara.
São igualmente temerosos como o pavor de envelhecer, de não fazer sucesso, do amanhã incerto, de não receber os likes das redes sociais.
Embora os chamados filmes de terror devessem invocar nossos mais profundos temores, os escondidos nos escaninhos do subconsciente, não tenho visto produções capazes disso.
Falta criatividade, como em toda Hollywood, em produções A, B ou que o valha.
Mas acima de tudo, já não resta aquele mistério que me assaltava quando entrava no hall do cinema na semana do terror, decorado com profusão de caixões, cruzes, figuras demoníacas e mórbidas.
Onde algum zumbi poderia estar à espreita arás da cortina, para me pregar um belo susto.