domingo, 31 de janeiro de 2010

Texto etílico

Uma desculpa para escrever quando você está bêbado é que de antemão você sabe que não vai sair nada que preste.
Mas peraí, dificilmente os posts de blog prestam.
Então tá valendo, não estou fazendo nada de mais ao escrever este post sob efeitos das smirnoffs e stella artois da vida.
O único problema é que amanhã é segunda feira.
Pensando melhor, que problema o quê.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A falta de identidade

Li uma vez que a preparação do elenco de Resgate do Soldado Ryan tinha sido feito por um ex-combatente, não lembro se do Vietnã ou da Segunda Guerra.
Ele levou o grupo de atores para o mato e tentou reproduzir com eles a rotina dos soldados no front.
A certa altura, perguntou aos atores o que eles sentiriam caso fossem soldados e vissem um colega ao lado ser abatido em combate.
As respostas foram mais ou menos de mesmo teor: pena, tristeza, desespero.
Mas o treinador do elenco retrucou com um categórico "não, vocês sentiriam alívio por não terem sido vocês".
Em uma situação extrema como numa guerra, é compreensível que o instinto de preservação prevaleça e que os outros fiquem mesmo em segundo plano.
Mas eu quis reproduzir esse relato porque suspeito que hoje as pessoas andem apavoradas pelo medo de ser esquecidas.
Ainda que nossas vidas não aconteçam num campo de batalha, a dureza da competição dos dias de hoje leva a uma perda de identidade gritante.
Antes, na época dos nossos pais e avós, as pessoas tinham um lugar no mundo.
O sujeito ficava a vida inteira na mesma empresa, onde recebia o reconhecimento e o carinho dos colegas.
Em seu bairro, era amigo dos vizinhos, frequentava o mesmo clube de todos, sua ausência era sentida na pelada do campo de várzea ou nas partidas de truco do bar.
Até sua vida familiar reproduzia essa estabilidade e os casamentos em geral duravam uma vida.
Mas esse modo de existir parece ter ficado no passado.
O sentido de auto-preservação num mundo cada vez mais competitivo distanciou as pessoas e as pessoas dos seus valores fundamentais.
É estranho como aos poucos vamos perdendo nossa capacidade de nos sensibilizar.
Com o colega que foi demitido, com o mendigo na rua, com o motoboy que pilota na chuva.
Não sei se como reflexo de suas próprias atitudes, a verdade é que as pessoas estão cada vez mais sozinhas.
Não fosse assim fenômenos como as redes sociais e os reality shows, onde as pessoas buscam um reconhecimento pela auto-exposição, não seriam um estrondoso sucesso.
Até a indústria do videogame, que hoje fatura mais que o cinema, tira proveito da necessidade das pessoas se sentirem heroínas por um dia, ainda que através de um avatar.
Mas tudo isso, assim como dinheiro e sucesso, não criam uma identidade.
Identidade ainda é alcançada pelos mesmos valores de nossos antepassados: família, amizade verdadeira, amor, realização profissional, caráter, serenidade.
Mesmo que hoje as regras de mercado inevitavelmente influenciem nossas escolhas, é preciso separar o joio do trigo.
Senão corremos o risco de ficarmos eternamente emulando uma vida de sucesso, reproduzindo um modelo que não escolhemos, mas que foi vendido para a gente.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Post no blog dos outros é refresco

Acabo de escrever um post sobre culinária para o blog da amiga Karen Goldman, especialista no assunto.

Quem quiser dar uma espiada, eis o link:
http://www.blogdaherminia.com/2010/01/pitada-dica-para-nao-comer.html

Ou clique direto no link do blog em "Minha lista de blogs", aí do lado.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Gírias sexuais

O futebol é uma grande fonte de gírias e metáforas da linguagem do nosso dia-a-dia.
Mas não chega perto da contundência das nossas referências sexuais.
Gírias e metáforas sexuais entram - ou penetram - em nossas vidas muito antes da primeira vez.
Uma criança "boca-suja" mal sabe o que isso significa, apenas repete a fala dos adultos e coleguinhas de escola, e acaba achando divertido levar pito por isso.
Mais tarde, talvez por força do hábito - mas eu acredito que pela importância que o sexo tem na vida humana - os termos sexuais se tornam insubstituíveis para dar peso ao que falamos.
Dizer que algo é "fudido" é mais do que ótimo, excelente, fora de série, qualquer adjetivo mais comportado. Um equivalente para isso é o menos usual "do caralho".
No outro sentido, "Tá querendo me fuder?" não é um convite, mas um desabafo de alguém que se sente prejudicado.
"Coitado" quase ninguém se dá conta que vem de "coito", ou seja, o "coitado" está "fudido" e não sabe.
"Nem por um caralho" é quase a impossibilidade total.
Soltar um "puta que o pariu" em alto e bom som é alívio imediato para aquela batida do pé no pé da cama.
E por aí vai, o repertório é extenso e daria mais exemplos não fosse esse cu de memória que eu tenho.
Mas já deu pra perceber - hã, quem deu? - que o palavrão tem lugar cativo no dicionário do dia-a-dia.
Aliás, quando ensinamos palavrões para nossos amigos estrangeiros, nada mais fazemos do que passar para eles o básico para se virar pelas ruas do Brasil afora.
Por que somos mais boca suja do que os outros povos? Tsc, tsc, tsc, what the fuck?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Puxa-saco de si mesmo

Uma capacidade que a gente ganha com a idade é conseguir conviver melhor com as diferenças.
Tenho impressão que até aquelas pessoas teimosas, birrentas, acabam cedendo um pouco a evidência de que a verdade é algo muito pessoal para enfiar a sua, goela abaixo de outra pessoa.
A gente se torna mais condescendente com a opinião alheia, mas veja bem, condescendência não é conivência.
É até condição de felicidade preservar a sua postura perante tudo e todos, mesmo que o mundo não seja um lugar tão livre como a gente gostaria.
Mas uma boa dose de independência é necessária.
Se render ao puxa-saquismo, ser maria vai com as outras, seguir modismos, tudo isso dificulta descobrir quem você é. E se felicidade existe, só existe com a condição irrestrita de fidelidade a si mesmo. Ou se você preferir, auto-puxa-saquismo.
Porque por mais que a gente polemize, contrarie, retruque, crie desafetos e perca dinheiro, oportunidades e sucesso, o que eu considero uma das maiores riquezas é poder se encarar no espelho e se orgulhar de quem você é.
Das suas escolhas, suas opiniões, seus gostos, suas paixões, sua garra.
O patrão a quem você mais tem obrigação de prestar contas e deixar satisfeito é você mesmo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Paixão

Hoje fiquei sabendo que o Dulcídio, diretor de criação da agência de publicidade mais criativa do Brasil, está deixando o cargo para seguir a carreira de diretor de cena.
O que faz alguém que possivelmente ocupa a cadeira criativa mais cobiçada do mercado de agências, conseguida a custo de muito trabalho e ambição, trocá-la por uma aposta, que de cara já lhe renderá uma redução salarial drástica?
Ora, nada mais que paixão.
Porque possivelmente, no cargo em que ocupava, Dulcídio tinha que lidar diariamente com imbróglios burocráticos que devem tê-lo afastado de sua menina dos olhos, o ato de criar.
E para quem está afundado em afazeres chatos, a possibilidade de voltar a brincar, desta vez com uma câmera na mão, parece uma saída pra lá de atraente.
Sinal de que dinheiro e prestígio, definitivamente não são os únicos valores que movem pessoas naturalmente criativas.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Mais um pouco de Leila Diniz

"Homem é a coisa mais insegura e possessiva que existe, deve ser porque é tudo muito óbvio, muito na cara, feito a sexualidade, ou fica duro ou não fica, aí vocês repetem isso dentro da cabeça de vocês e ficam burros."

Um pouco de Leila Diniz

"Tem-se que brigar com o passado, ou melhor, estudá-lo.
Arrancar de dentro da gente as raízes burguesas e mesquinhas, as tradições, o comodismo e a proteção.
É preciso se separar de todos esses problemas criados na infância, do bom, do direito e acho que é aí, nessas separação, nesse rompimento, que a gente tem medo da solidão.
Medo de não ser aceito.
Acho que é preciso de deseducar para se reestruturar, para se chegar aos instintos verdadeiros dentro da gente, para descobrir o certo da gente.
Quando se está livre de toda capa de proteção, de boa educação, de direitinho, das normas, dos preconceitos, de tudo que é ensinado pra gente, se pode ter uma visão de vida e de mundo, uma maneira de viver muito mais livre e divertida, muito mais aberta."

Versões

Eu me considero raso em cultura musical.
Transito um pouquinho melhor em literatura, cinema e até arte.
Música é o meu fraco dentro do repertório cultural, mas também é meu fraco no outro sentido.
Quem já não foi consolado, estimulado, sensibilizado ou tocado, por uma música ouvida no lugar, no momento
ou com a pessoa certa?
Mas a música, tal qual todas as outras manifestações da arte, também tem suas limitações.
Embora pareça infinito criar com sete notas, a canção também é um formato que se esgota.
Não fosse assim não teríamos casos de plágio, arranjos e melodias que soam familiares demais para serem originais.
É que tem me acontecido ultimamente, escutando rádio ou prestando atenção em som ambiente de loja, restaurante, elevador e afins.
De repente meus ouvidos captam uma melodia prazerosa e eu me pergunto de quem seria essa novíssima composição.
Até me dar conta de que é mais uma versão de algum clássico ou de um sucesso das paradas dos anos 70, 80, 90.
Tudo bem que as versões cumprem o papel de modernizar arranjos de gravações originais que até podem soar datadas para ouvidos mais exigentes.
Mas que parece oportunismo mercadológico de um momento de aridez criativa, parece.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O por quê do sucesso de House

Sou fã, como muitos outros amigos confessos, da série de TV House.
Aquela do médico que abusa da falta de ética e resvala no mau-caratismo, mas que, com perdão do trocadilho, opera verdadeiros milagres num hospital.
Pois é, a série faz o maior sucesso e consagrou o ator principal, que saiu de papéis obscuros em filmes não menos, para o estrelato e, provavelmente, a fortuna.
Acredito que seja a mão de Deus.
Não Deus assim, com "D" maiúsculo.
Tô falando do papel que o Dr House encarna, tirando verdadeiras cartas da manga para solucionar magicamente casos aparentemente sem volta.
Se o homem comum esconde em seu íntimo o desejo utópico da imortalidade, ele encontra em House a realização dessa aspiração.
House, tão ou mais humano e errático quanto qualquer um de nós, brinca de Deus dentro de seu domínio, vingando a todos nós da crueldade de Dona Morte, fazendo gato e sapato dela.
Nem sempre, claro.
Mas só aquela sensaçãozinha de poder desviar o triho do nosso destino já garante o ibope.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Um plano B para chamar de meu

Você percebe que está ficando velho quando começa a pensar num plano B de carreira.
No meu caso, de carreira mesmo, já que não realizei o sonho da poupança própria, para viver de renda para sempre.
Enfim, também não quero passar o resto da minha vida sem produzir mais nada, de modos que venho pensando em uma alternativa.
Incrível como ainda não inventaram um teste vocacional de plano B , tamanha a quantidade de indecisos que pretendem abraçar uma segunda ou terceira carreira. São as mesmas pessoas que já fizeram esse teste lá pelos 18 anos de idade, menos as que enriqueceram no intervalo. Ou seja, quase todos.
Aliás se esse teste existisse, poderíamos apontar alguns prováveis resultados, de acordo com o perfil do candidato.
Para os pouco originais, a carreira clichê: dono de pousada.
Para os que adoravam uma happy hour depois do expediente, barman.
Para os ex-workaholics, professor de ioga.
Para maus dentistas, açougueiro.
E por aí vai. Ou iria.
Eu já pensei na pousada, numa carreira no cinema, em design de objetos e em qualquer ocupação no ramo do turismo.
Confesso que já me deu uma preguicinha de pensar nessa segunda carreira.
Pô, por que em ao invés de compra tanta porcaria eu não fiz meu pé de meia?

domingo, 3 de janeiro de 2010

Quero ser pequeno

Neste Natal errei no presente do meu sobrinho João Pedro.
Tô careca de saber que ele adora caminhão, mas sabendo que ele já tem uns 40, quis variar e comprei um daqueles carros de controle remoto cheios de manobras firulentas - na verdade, é como se tivesse comprado para mim.
De nada adiantou aquele aviso de "acima de 8 anos" na lateral da embalagem -O João Pedrinho tem apenas 3 anos. Meu sobrinho nem abriu a caixa, ao contrário do que acontece quando debaixo do papel de embrulho ele encontra um caminhãozinho mequetrefe.
Daí que eu me peguei pensando porque a gente quer que os guris cresçam tão rápido. A gente acha uma gracinha criança falando que nem adulto e eu vira e mexe falo com meu sobrinho de igual para igual como se ele fosse obrigado a entender a mensagem.
Justo eu que sempre reivindiquei poder ser uma criança eterna.
Vejam bem, não me entendam errado. Não estou falando do crianção imaturo que não assume suas responsabilidades - embora as vezes até esse possa ser perdoado.
Tô falando dessa coisa de preservar o espírito brincalhão mesmo, a malfadada criança interior.
Lembra daquele filme "Quero ser grande"?
O rapazinho foi atendido em seu desejo de se tornar adulto para perceber que o mundo dos adultos pode ser tão ou mais infantil do que o universo das crianças. Aliás, o mundo corporativo chega a ser infantilóide em suas disputas de poder e ego - eca!
Resultado: preferiu voltar a infância, onde poderia ser criança de fato e direito, naquela inocência que a vida nos induz a perder.
Taí: prefiro resgatar essa criança do que viver essa criancice que muito adulto por aí acha que é sério.

Feliz ano de novo

Desta vez esqueci de fazer os tradicionais pedidos, não comi lentilhas, não guardei sementes de romã na carteira nem me lembro da cor da cueca que usei - só sei que não era nova, o que invalida a superstição.
Também não pulei 7 ondinhas, com preguiça de atravessar o riozinho que separava a casa da areia da praia - ia me molhar até a cintura, não só até as canelas como é admissível para um fresquinho como eu.
Juro que não é cinismo nem falta de fé na vida, na renovação do ritual do ano novo.
É que na hora não bateu aquele espírito de reveillon, aquela micaretagem básica que faz a gente sair pulando abraçando todo mundo e requebrando ao som de marchinha de carnaval antecipado.
Mas tudo bem, o fato da passagem não ter dado liga em mim não quer dizer desânimo, cinismo ou qualquer sentimento que desqualifique minha fé num ano bom.
É que esse papo de esperança encheu um pouco.
Quem espera sempre alcança? Puta mentira.
Vá alcançar mais e esperar menos.
Feliz ano novo pra todo mundo.