quarta-feira, 27 de junho de 2012

Quando tudo conspira

Falar desse assunto para mim é indigesto, já que sou palmeirense desde que me conheço por espermatozóide - desculpa, mãe, mas isso herdei do pai.
Ainda bem que o assunto é só um pretexto.
Me refiro a esse empate sintomático que os gambás arrancaram na Bombonera, que é a perfeita tradução da conjunção favorável dos astros.
Só um time que está "caminhando nas nuvens" poderia conseguir um gol aos 40 do segundo tempo, no primeiro toque na bola de um novato - ok, que varou o meu verdão com dois tentos no último domingo, mas isso é outra história.
Do outro lado, Viatri, um atacante vindo de contusão e que também havia acabado de entrar, contrastava com a bem-aventurança de Romarinho, acertando a trave numa cabeçada que poderia ser a redenção do Boca.
Enfim, à parte o bom esquema defensivo de Tite - pragmático e vencedor, mas que não me agrada - o Corinthians deverá se sagrar campeão da Libertadores menos por brilho do que por um fator que vai além das quatro linhas: a vontade do cara lá de cima.
Os gambás estão com a macaca.
E não digo que já ganhou por acreditar em destino.
Me refiro à leitura do momento.
Saber se as condições de temperatura e pressão nos favorece ou não - e utilizar esse dado a favor - é algo que não se aprende nos livros.
Isso o Corinthians soube fazer o campeonato inteiro, nunca se expondo em demasiado, esperando o momento certo de dar o bote.
Ou seja, quando se está em estado de graça, basta um pouco de cautela para só colher os frutos.
Já quando a maré está para tsunami, o resguardo é a atitude sensata.
Como o surfista que perdeu a prancha e não conseguindo voltar a nado, se deixa levar pela correnteza para encontrar a saída para a praia.
Dizem que quando pressentem a zica no ar, os chineses nem saem de casa.
Certíssimos.
Contra energia negativa, não há argumentos.
Não confunda persistência com teimosia.
Renda-se aos fatos.
Já se você sente que é o seu momento, apenas não hesite em esticar a perna na direção da bola.
O capricho dos deuses adora gol de canela.


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ar fresco


Essa imagem aí de cima de uma pessoa com os braços abertos tomando vento na cara é um dos maiores clichês da publicidade.
Tipo assim, 11 entre cada 10 anunciantes já utilizaram imagem desse naipe para passar idéias como liberdade, bem-viver, saúde, etc.
Ou seja, fresh ar que de fresh não tem nada.
Mas quando estou no escritório, travado em alguma tarefa ou embotado em pensamentos, nada como pegar o elevador e dar uma voltinha lá embaixo, em busca de ar fresco, que na nossa cidade está cada vez menos oxigenante.
Só que a culpa não é só dos escapamentos ou chaminés.
A falta de oxigênio vem de um mundo cada vez menos inspirador também, com o perdão do trocadilho.
Eu sei, viver desse jeito, com contas de mais e tempo livre de menos, é limitante.
E a rotina,você sabe, é aquele buraco que a gente cai e não sai mais.
Mas desculpe, eu sou teimoso.
Mais do que isso, sou romântico.
Não quero me conformar com esse mundo sabor de isopor.
Prezo a originalidade, a chama instigante que não se conforma com a reprodução barata.
Mais Federer e menos Nadal.
Mais Neymar e menos Paulinho.
A eficiência é ótima para os lucros, mas é insuficiente para os nossos corações.
Ok, a vida é cíclica, a moda é vintage, o mundo é um museu de grandes novidades.
Mas o dever de aprender duas línguas ou acompanhar a bolsa não pode excluir a poesia.
Não deixemos que os sonhadores virem pandas.
Que a gente não respire por hábito, mas respire fundo por legítima inspiração.


domingo, 17 de junho de 2012

Menos, tá?

Outro dia o super-atleta Neymar estrebuchou no gramado durante uma paralisação do jogo Santos x Corinthians, válido pelas semifinais da Libertadores.
Mais do que o esgotamento físico, Neymar acusou seu limite humano diante do papel que tem tentado cumprir nos últimos tempos, o de ícone do super-mega-blaster-nato talento futebolístico brasileiro.
Há quem o acuse de involuntariamente ter incorporado o mascote em carne e osso da próxima Copa do Mundo, rivalizando com os melhores jogadores pelo posto de rei do futebol.
Mas Neymar é apenas mais um ótimo jogador brasileiro, com lugar garantido entre os 11 do escrete nacional, mas ainda assim só mais um entre os 11 da engrenagem.
Sua fama além da conta se deve ao marketing, interessado em reverter em vendas os produtos associados ao herói nacional do momento.
Alguém poderia perguntar: qual a novidade?
Nenhuma, mas nem por isso deixo de suscitar a discussão: não estaríamos exagerando na valorização da imagem?
Neymar sempre afirma jogar por gosto, mas sua agenda de compromissos publicitários somada às cobranças dentro de campo, deixam pouco espaço para o romantismo.
Mas ora, quem hoje em dia se interessa pelo romantismo?
Até mesmo o romance perdeu o romantismo.
O que vemos é cada vez mais gente apaixonada pela própria imagem.
Seja nas capas de revista, nos escritórios, nas redes sociais, nos eventos esportivos e culturais, em qualquer palco ou palanque.
Em qualquer meio, há um movimento de espetacularização da vida que têm feito muito mal ao ego humano.
O ser normal já não basta, o que leva a uma insatisfação crônica, já que, humano que somos, não estamos conseguindo arcar com uma agenda sobre-humana.
Estrela de cinema sorriem mesmo com joanetes latejando em sapatos apertados.
Jogadores, como se não bastasse a cobrança por performance esportiva, se desdobram em compromissos sociais.
Pessoas comuns fazem esforço para sair do lugar comum, seja lá o que for isso.
Pois a felicidade é um sorriso interno e não há câmera que possa captar o que se passa por dentro.
Felicidade predispõe entrega e vulnerabilidade, o admitir de nossas limitações perante o próximo.
Nada contra se orgulhar dos próprios feitos.
Orgulho e vaidade fazem parte do jogo.
Mas é preciso ser mais comedido na exposição da própria persona, sob risco de vivermos uma eterna mimese da realidade.
Pode cantar, batucar, desfilar, postar, à vontade.
Só não exagere na dose.