quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Baranga



Não sou determinista.
O livre-arbítrio não chega a ser uma fé cega, mas concordo com a escritora Inês Pedrosa: "viver sem esperanças loucas é muito triste".
Contudo, fico indignado quando nossos governantes alardeiam que "chegou a vez do Brasil".
Ok, vivemos uma boa fase, surfando na onda dos países emergentes, na contramão do mar flat dos americanos e europeus.
Mas daí pra achar que de repente a gata borralheira brasileira está prestes a virar cinderela é demais.
Não é questão de pessimismo, mas de constatar quanta coisa errada e contra qualquer lógica de processo de desenvolvimento ainda vivemos.
Em 16 anos de gestão de FHC e Lula, não rolou nenhuma reforma estrutural.
Nem política, nem tributária, nem previdenciária, nem trabalhista, nem nada.
A dívida pública e o peso da máquina estatal continuam devorando toda a arrecadação sem retornar sergurança, educação ou saúde ao contribuinte.
Divisão de renda ainda é pequena e retomando a analogia surrada, o peixe que se distribui não ensina a pescar.
A cidadania e ética na esfera pública são praticamente inexistentes.
Resumindo, o quadro é precário, não?
Então não me venham com otimismo pré-copa e olimpíada que isso, todo mundo está cansado de saber, já cheira a corrupção de empreiteira.
Que tal continuarmos com os pés no chão, encarando a realidade brasileira de frente, feinha como ela ainda é?
O Brasil continua uma baranga.
Mais arrumadinha, mas ainda uma baranga.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Passou rápido



Aquele comentário de elevador com o vizinho, sobre o ano que passou rápido, poderia ser apenas um clichê se não fosse uma evidência de como a vida anda acelerada.
Essa virada de ano me fez pensar em como o giro dos ponteiros no relógio se parecem com a gente correndo atrás do próprio rabo.
Queria que meu dia fosse feito de tecido stretch, mas ele anda encolhendo mais rápido que roupa de bebê.
Se mal dá para cumprir as tarefas diárias, as que garantem (?) as necessidades básicas, quem dirá dar conta dos projetos, das fantasias, dos sonhos.
Antigamente o homem queria inventar uma máquina para viajar no tempo.
Eu, que não tenho a menor pressa de viver o futuro nem guardo saudosismo do passado, preferia que inventassem uma máquina para produzir tempo.
Daí abriria provavelmente o negócio mais rentável do mundo.
Duas horas fresquinhas para o executivo passar com o filho? É pra já.
Meia horinha a mais de sono? No capricho, senhora.
Uma hora de siesta? Pra agora ou embrulha?
Façam fila, clientes, e não precisa chiar.
Depois é so comprar uns 15 minutos a mais pra compensar.