segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Somos ou não somos complexos?



Quando a gente se depara com uma daquelas fases negras, sempre tem algum amigo simplista que puxa aquela surrada sabedoria de gaveta "a vida é simples, a gente é que complica".
Mas será mesmo que o culpado somos nós?
Não bastasse a vida ser difícil, a gente ainda tem que carregar a culpa por ser o causador da complicação?
Isso me faz lembrar daquela aula de ciências sociais (ou coisa parecida) do colégio, onde me foi apresentada a pirâmide de Maslow.
Aquela ilustrada aí em cima, que coloca nossas necessidades numa ordem hierárquica, partindo do pressuposto que o homem só se lançaria a novas aspirações após satisfazer as mais prementes.
Em resumo, só depois de garantir a sobrevivência é que você vai pensar em lazer, ligações afetivas, etc.
Mas uma conversa com uma amiga me fez refletir sobre o quanto teorias simplificadoras podem estar equivocadas.
Ela, que faz trabalho social e teve as mais diversas experiências em favelas atendendo pessoas muito carentes, concluiu que há sim necessidade de alimentar corações e mentes paralelamente àquela de encher o estômago.
Afinal, pobres ou ricos, de dinheiro,espírito ou saúde, todos carregamos conosco nosso consciente, o que já nos distingue dos que agem só com o instinto.
Lembro-me do Jorge, um humilde ex-colega de trabalho que um dia, ao ver passar o arrogante presidente da empresa, me confessou preferir receber um sonoro "bom dia" do esnobe executivo a um aumento salarial.
Viu? Dinheiro não é mesmo resposta para tudo.
Somos complexos, sim, graças a Deus.
E que os doutores Maslow da vida não me venham com gráficos e simplicações.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A cara do dono

Às vezes você conhece a obra e quando descobre o artista acha que o "o cu não tem nada a ver com as calças".
No caso do Elliott Erwitt isso não acontece.
Seu trabalho tem a cara do dono, ambos bem-humorados.
Não lembro quem foi que disse, talvez Oscar Wilde, que os gênios são quase sempre pessoalmente desinteressantes.
Mas com o Mr. Erwitt eu passaria fácil uma tarde bebendo umas num bar.
Uma vez, numa entrevista, ele aconselhava os aspirantes a fotógrafo a desistirem da profissão.Com o argumento de que mal dava para pagar as contas.
Justo ele que tem essa cara de quem não está nem aí com contas atrasadas.

O porta-retrato incidental

A noiva misteriosa

Cães: sua especialidade


O dito cujo

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Masoquismo Futebol Clube



Eu gosto de futebol.
Não é doença congênita,é adquirida por doses homeopáticas de idas a estádios na companhia do meu pai-herói, tentando entender a religião dele e aproveitando para "filar" uns sacos de pipoca e sorvetes.
Esse processo de catequese, se você não bate o pé e desiste na primeira missa, toma conta e de repente você se descobre convertido, unindo-se a milhões de torcedores-sofredores-abduzidos.
Não que eu me orgulhe dessa condição. É que quando se é muito garoto, futebol não é gosto, chega a ser quesito de inclusão social. Pelo menos no meu tempo era, não havia Orkut, Facebook, Fifa Soccer ou outros artifícios para ser aceito.
Mas onde eu queria chegar é a que ponto nos sujeitamos pela fé a um time.
Na segunda passada fui ver o meu jogar em casa pelo campeonato brasileiro.
Sendo véspera de feriado em São Paulo, subestimei a grandeza da cidade e deixei para comprar o ingresso no local do jogo, meia hora antes, supondo ter sido mais do que precavido.
Ledo engano. Peguei uma fila daquelas e só coloquei os pés na arquibancada aos 30 minutos do primeiro tempo.
Para compensar a frustração, me julguei um pé quente daqueles, ao ver meu time marcar dois gols na sequencia e botar números animadores numa tarde nublada zero a zero.
Novo ledo engano. No segundo tempo o escrete volta apático, acomodado, com o perigoso placar "já ganhou" levantando suspeitas de uma tragédia iminente.
Dito e feito, meu time toma três gols e temos que aguentar em silêncio alguns gatos-pingados-torcedores-inimigos pulando feito macacos bem na nossa casa.
Tempo e jogo perdidos.
Malditas pipocas e sorvetes!!!

sábado, 28 de agosto de 2010

A involução


O homem, segundo a teoria darwiniana, veio do macaco.
Precisamente daquele primeiro macaco que deixou de se apoiar nas patas dianteiras para se locomover e passou a andar mais ereto.
Daí evoluiu para hominídeos de várias espécies, como o Australopitecus, Homo Neanderthalensis e Homo Erectus, até chegar ao atual Homo Sapiens.
Agora, já se pode dizer que há outra espécie de hominídeo estabelecida, aquela que atingiu o, no bom sentido, mais alto grau de ereção: o Homo Placus.
Este novo homem se distribui por algumas subespécies, tais como Homo Placus Aureos, Homo Placus Atestadus Medicus e mais recentemente, o Homo Placus Imobiliarius.
Esta última é a que tem menor mobilidade, com seus exemplares sendo encontrados estáticos em calçadas das metrópoles, com placas-seta penduradas no pescoço, apontadas para futuros empreendimentos imobiliários em construção.
Degeneração da espécie humana, o Homo Placus Imobiliarius só se compara em grau de involução ao Homo Bandeirus Partidarius, espécie que só se reproduz de 4 em 4 anos, no período Mezozóico-Eleitoral.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A invenção da adolescência

Outro dia mesmo eu estava numa dessas palestras sobre mercado de consumo onde o tema era a geração de 30 anos, que os mercadólogos chamam de novos 20.
Eis que no meio do assunto a palestrante fala sobre uma era "antes do surgimento da adolescência".
E aí, eu me dei conta: é verdade, a adolescência é uma fase inventada.
Pois houve um tempo, onde a expectativa de vida era de uns 25, 30 anos, onde não havia fase de transição.
Passava-se da infância a fase adulta sem adolescência, como quem pára de brincar de casinha direto para brincar de dona de casa.
E se isso de fato acontecia, tese que um antropólogo pode confirmar ou desmentir, pode-se imaginar a pressa com que se vivia nesse tempo.
Talvez mais do que nos dias de hoje, vivia-se para um agora, um pra já, um futuro imediato ininterrupto, como se não houvesse amanhã. O que até havia, mas não muitos.
Mas será que as pessoas viviam numa pressa ainda maior que a de hoje?
Pois hoje, em função do trabalho massacrante e de problemas que consomem nosso tempo como burocracia e o trânsito das grandes cidades, parece que o tempo escorre cada vez mais fluido por entre os dedos.
Não sei não, mas tenho a desconfiança que mesmo com a expectativa de vida baixa daquele tempo, gozava-se muito mais o tempo físico do que agora.
Ou nos desenhos rupestres de cavernas há registro de estresse, trânsito ou jornadas de trabalho de 14, 15 horas diárias?
Acho que não, né?
Tudo isso que é causa ou consequência da falta de tempo, foi a gente quem inventou.
O que na verdade é um grande paradoxo da modernidade: aumenta-se a expectativa de vida para ter cada vez menos tempo.

Antigamente casava-se mais cedo em função da pequena expectativa de vida.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Profissão de fé

Por conta de um curso de roteiro cinematográfico mergulhei na leitura de vários livros sobre o assunto.
Um deles foi o "Conversas com Almodóvar".
Até esse momento não terminei o livro, mas uma coisa que eu supunha, se confirmou pelos relatos do craque espanhol da película: ser diretor de cinema é uma profissão de muita fé.
Porque ser diretor de cinema, que tanto na Espanha como por aqui nem profissão é considerado, é muito fácil.
Tudo começa com uma idéia.
Daí você mesmo ou um roteirista conhecido seu tem que colocar a idéia em forma de roteiro.
Então você entra num edital do governo ou bate de porta em porta até levantar um, dois milhões de reais de algum empresário amante do cinema ou das isenções fiscais.
Feito isso, você convoca uma equipe técnica completa e um elenco dispostos a trabalhar por amor à arte.
Escolhe as locações, monta o cronograma e se responsabiliza por todos os detalhes das diárias de filmagem, que vão do mal humor do protagonista ao buffet que serve as refeições no set.
Terminada a filmagem, passa à montagem, edição, mixagem, etc.
Enquanto isso, um produtor vai negociando alguma exibição da sua cria, seja no cinema, tv, internet ou ao menos algum festival de cinema independente lá dos cafundó.
Então, se tiver sorte, você e sua família não serão os únicos a testemunhar sua genialidade na sétima arte, catapultando-o do anonimato para as páginas de revistas especializadas e de repente, uma entrevista no Jô na madrugada de sexta para sábado.
Convenhamos, não é das tarefas mais fáceis conceber um filme.
Se você que tem pretensões nessa praia conseguir materializar ao menos um curta, sinta-se realizado.
O Almodóvar fez bem mais do que isso, mas ele é hour concours.
Não porque seja gênio, visionário, predestinado.
Ele é tudo isso e ainda um apaixonado, obcecado por cinema.



Almodóvar: fala pouco e faz muito

domingo, 2 de maio de 2010

Imagem

Numa das minhas raras leituras sobre filosofia, um assunto que me chamou a atenção foi a substituição, nos dias de hoje, da doutrina da salvação em Deus pela salvação no próprio homem.
Pelo que entendi, antes as pessoas buscavam acalmar suas almas na promessa redentora de uma vida após a morte. Hoje, muito mais descrentes, elas procuram o aconchego na afirmação de seu individualismo.
De fato, o individualismo passou a ser a religião de 9 entre 10 almas solitárias, em detrimento do culto religioso original.
E apesar do desenvolvimento da personalidade ser essencial para uma vida saudável, o pessoal tem passado do ponto e exagerado no culto da própria imagem.
Longe aqui de querer fazer apologia religiosa.
Muito pelo contrário. Fui batizado na igreja católica, cresci frequentando a budista, mas na contabilidade de horas-missa estou devendo a Deus.
Só estou constatando que o culto da própria imagem talvez não esteja levando nossas almas para um lugar tranquilo. Não tem contribuído para elevar o espírito.
É fácil verificar isso onde esse comportamento é exacerbado, por exemplo, entre personalidades do cinema, esportes e show bizz.
Entre esse povo, fica evidente que a busca pelo olimpo e a briga para ali permanecer produz resultados desastrosos.Modelos anoréxicas, astros suicidas, atrizes decadentes que se tornam estrelas pornô, e por aí vai.
Guardadas as proporções, esse comportamento também se reproduz entre nós mortais.
No mundo corporativo, por exemplo, mais importante que fazer é vender bem o que você fez, mesmo que esse feito não seja tão digno de nota.
Ou no jargão do business, network é muito mais importante que o work.
Não fosse assim profissionais como assessores de imprensa, o personal stylist, o coach, não estariam tão valorizados.
Na vida pessoal, a galera também têm exagerado.
A preocupação excessiva com o corpo é o mais evidente, desde a ênfase no emagrecimento, na construção de corpos siliconados, até plásticas que transformam pessoas de carne e osso em aberrações a la Michael Jackson.
O que também incomoda e até irrita é a galera que nunca perde a pose.
São aquelas pessoas que vestem a carapuça do personagem e não saem dele, o que provoca a sensação frustrante de nunca conhecê-las de fato.
São aqueles indivíduos que você nunca vai chamar para um chopp, sabe?
Porque se você chamar , eles vão ficar o tempo todo tentando se vender para uma platéia de cinco gatos pingados em vez de todos juntos morrerem de rir de si mesmos.
Claro que ninguém está imune a preocupação consigo mesmo, de querer melhorar e tal.
A gente sabe que auto-estima é importante, assim como vaidade, inveja e orgulho são sentimentos humanamente compreensíveis e perdoáveis.
Só acho que o exagero no culto do sucesso não tem ajudado ninguém a viver melhor consigo mesmo, nem a conviver melhor.
E não digo isso sem também fazer minha auto-crítica.
As vezes também me preocupo além da conta em preservar uma certa imagem.
E depois acabo achando que é uma grande bobagem.

sábado, 1 de maio de 2010

Mundo mais chato

Eu já devo ter escrito sobre como o mundo ficou mais chato globalizado, mas enfim, é um tema recorrente pelas evidências cada vez mais frequentes.
Outro dia fui à Casa da Rússia, uma lojinha na Vila Madalena que vende lembrancinhas daquele país - especialmente aquelas bonequinhas que saem uma de dentro da outra, as matrioshka - e constatei que, caso eu viaje para lá, não há mais porque encher as malas de souvernirs na volta, estão todos ali.
Lembrei também de uma loja de Paris, a Pylones, que vende zilhões de presentinhos para turistas, e que há pouco tempo era atração de amigos que voltavam encantados de Paris. Pois bem, com todo esse sucesso não demorou para abrirem um quiosque da Pylones ali mesmo no Shopping Iguatemi.
Invertendo a rota, se você for para países que há algum tempo eram culturas fechadas, como a China, vai constatar a invasão da cultura ocidental em lojas do McDonald´s, da Zara e outros ícones capitalistas.
Pode ser saudosismo de alguém que está ficando velho, mas, mesmo não sendo consumista, lembro com saudades de uma viagem que fiz com minha mãe para o Paraguai, nos meus 11, 12 anos de idade.
As condições da epopéia eram péssimas: viagem de ônibus, saindo na sexta e voltando no domingo, 12 horas para ir e igual sofrimento para voltar.
Mal o ônibus chegava em Puerto Strossner - era o nome da cidade na época - você largava as malas vazias no hotel e já se punha na rua para uma maratona ininterrupta de compras até o sol se pôr.
Começando pelos relógios Casio, tênis chinês de sola verde e game boy (da época, sem cartucho) do Paraguai e terminando carregado de torrones, calças Fiorucci, alfajores e cashmere da Argentina - para quem não se lembra, ali fica a divisa dos três países, Brasil, Paraguai e Argentina.
Hoje eu não toparia passar por todo esse sofrimento para voltar carregado de quinquilharias eletrônicas de que não preciso.
E mesmo que precisasse, tudo agora está a alguns quilômetros, nos shoppings de coreanos e chineses da Paulista, cujos estandes lembram muito Puerto Stroesner. Só que sem a exclusividade, o charme, e o friozinho na barriga de passar pela alfândega na volta, carregando aquele walkman escondido entra a cueca e a calça, rezando para chegar são e salvo com meus troféuzinhos que pouca gente tinha, na bagagem.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Um quintal, por Danuza Leão

Abaixo transcrevi um texto da Danuza como um agradecimento aos meus pais por terem me criado num quintal com goiabeira.


Quando uma pessoa começa a melhorar de vida, pensa logo em comprar uma boa casa. E o que é uma boa casa? É preciso um jardim e uma piscina, imaginam os pais. Eles querem para as crianças uma infância saudável, com confortos que nunca tiveram, mas não pensam no principal: um quintal.
Um quintal não precisa ser grande, e o chão deve ser de terra batida. Nele deve haver algumas árvores que não pareçam ter sido plantadas, mas sempre existido. Um abacateiro e uma goiabeira, de goiaba vermelha, são fundamentais. No fundo, um galinheiro tosco, com uma porta quebrada, para que as três ou quatro galinhas possam correr quando alguém quiser pegá-las. Nenhum computador levará uma criança ao deslumbramento que ela terá ao encontrar um ovo e segurá-lo, ainda quentinho. É o mistério da vida nas mãos dela, mais absoluto e mais simples do que qualquer livro de filosofia.


Um dia, a cozinheira avisa que vai matar uma galinha para o molho pardo. Os meninos pedem para ver a cena trágica; a mãe não quer, mas a empregada, acostumada, com o facão na mão, facilita. Se a galinha tiver dentro da barriga aquele monte de ovinhos, aí a lição de morte – e de vida – será ainda mais completa. E mais lições serão aprendidas quando alguém sugerir fazer uma peteca com as penas mais duras e algumas palhas de milho.
Mas será que alguém sabe do que estou falando?


Voltando: esse quintal deve ser meio abandonado, mas muito limpo; duas vezes por dia a empregada, cantando bem alto, dá uma varrida. É importante também que haja um tanque para lavar o pé de alguma criança quando ela pisar descalça numa porcaria, e um varal com pregadores de roupa de madeira. Nesse lugar, não vai ter horta nem pomar organizado. Em compensação, é bom que exista do outro lado do muro uma enorme mangueira para que se possa praticar o melhor crime do mundo: roubar as frutas do vizinho. Nos fundos de um quintal, deve haver também uma touceira de bananeiras ou bambus e, claro, um adulto dizendo sempre para tomar cuidado, pois ali pode ter uma cobra. Não há infância que se preze sem medo de cobra.
Quando as goiabas começam a crescer, fica todo mundo de olho até a primeira delas estar no ponto para ser arrancada e mordida ali mesmo, sem lavar. E que sensação terrível quando se vê o bicho da goiaba se mexendo. Aí, sem que ninguém precise dizer nada, você começa a aprender que a vida é assim: ou se compra uma goiaba bonita, mas sem gosto, ou se espera com paciência ela amadurecer no pé até desfrutar o supremo prazer de dar aquela dentada – com direito a bicho e tudo.


Mas o tempo voa.
De repente você se sente só, abre o caderno de telefones e percebe sua pouca afinidade com os nomes que estão lá, que tem vivido uma vida que não tem nada a ver e começa a procurar um sentido para as coisas.
Não encontra resposta, claro, mas um dia está no trânsito, vê um terreno baldio, se lembra daquele quintal no qual não pensa há anos e percebe que essa é a lembrança mais importante e mais feliz de sua vida. E passa a olhar o mundo com a superioridade de quem tem um tesouro guardado dentro do peito, mas ninguém sabe.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

No avião com Danuza

Tem gente que gosta daqueles livros de aventureiros que cruzaram oceanos em barquinhos, escalaram o Everest, etc. Eu também li o livro do Amyr Klink há uns 20 anos atrás e gostei na época- sorte que a gente evolui.
Mas ainda prefiro os livros de viagem da Danuza Leão.
Gosto porque são descompromissados porém bem escritos, apesar de que o único propósito da escritora parece ser relatar seu prazer em viajar, como jornalista que é.
Danuza viaja com estilo, sempre se hospedando em bons hotéis, comendo em bons restaurantes, enfim, se presenteando o tempo todo com mimos.
Mesmo resvalando na peruice, não chega a ser coisa de socialite, somente de quem apenas quer curtir uma viagem com tudo a que se tem direito.
Até porque Danuza não nada em dinheiro, teve carreira de modelo e hoje é colunista da Folha. Ou seja, deve saber valorizar cada real gasto em viagem.
Se dizem que viajar é o melhor investimento que se pode fazer, digo que comprar e ler um livro da Danuza de uma só sentada também é um investimento de tempo e de alguns reais que vale a pena.
E se pra mim ler um livro da Danuza equivale a um tour pela Europa, desconfio que eu devo gostar mesmo de uma avião.
Pena que esse hobby seja tão caro.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

De fora

Tirei três semanas de férias sem viajar, somente pra mudar de endereço.
Não tem muita graça permanecer na cidade onde você trabalha, não dá nem pra desconectar.
Mas como férias são férias, deu pelo menos para parar e pensar na vida.
E o que é mais importante, olhar sua rotina pelo lado de fora.
Eu já me peguei muitas vezes indignado com a rotina de executivo paulistano, desejando ter mais tempo livre para interromper o itinerário casa-trabalho-casa, sem incluir barzinho e cinema aí no meio.
Mas por aqui isso é bem difícil.
Porque não bastaria sair mais cedo do trabalho, mas também o trânsito teria que me deixar sair do escritório.
E para isso, o governo teria que acelerar as obras do metrô até a Vila Olímpia.
Mesmo assim, saindo a pé do trabalho, eu ainda iria deparar com uma cidade inóspita para o pedestre. Onde as ruas não tem calçada decente, iluminação e segurança suficiente e muito menos charme.
Ah, o charme que falta a São Paulo sobra em cidades como o Rio, Barcelona, Paris.
Desconfio que a identificação excessiva do paulistano com o trabalho faz com que a cidade pareça um grande escritório ao ar livre. Ou melhor, uma repartição pública, pois há escritórios bem bonitos e charmosos por aqui.
Porque se o paulistano apreciasse mais ficar a toa, talvez exigisse espaços de lazer em mais quantidade e qualidade.
Os europeus, por exemplo, que no verão saem mais cedo do trabalho, desfrutam de parques lindos e muito bem cuidados para flanar sem culpa.
Mas fazer o quê, isso aqui ainda é um país adolescente.
Ainda precisa ralar muito pra chegar lá.
Vê se cresce e amadurece logo, Brasil.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Raízes

Hoje o Cesar, porteiro do prédio, veio trocar um plugue da minha antiga máquina de lavar roupa, pra eu conseguir ligar a geringonça nessa tomada que é o novo padrão imposto pelo governo - até nessas artimanhas os bandidos conseguem nos tirar uns trocados.
Bom, conversa vai, conversa vem, eu ouço do Cesar, que é do Piauí, a confissão de seu desejo de voltar pra terra natal. Volta que ficou dificultada pela vontade dos filhos, que nascidos aqui preferem por aqui permanecer.
Não é o primeiro porteiro ou zelador que expressa sua vontade de retorno, mais do que justificada pela vida dura de sampa, que castiga até os que têm dinheiro e conforto, quem dirá dos pobres coitados que passam noites frias em guaritas.
Eu, que salvo os laços familiares, praticamente me desvinculei dos laços com minha terra natal, ainda não descartei uma volta para o interior ou fuga para o litoral, pois sei o quanto São Paulo castiga cada vez mais seus filhos adotivos.
Imagino que para o Cesar, o Zé Carlos, o Damião e outros porteiros que vieram de bem longe atrás de sobrevivência, ou talvez de um sonho dourado ou promessa falsa de enriquecimento, já tenha caído a ficha de que a tão apregoada qualidade de vida tenha ficado para trás, lá na terrinha onde nasceram.
Azar de nós, da classe média, que nos viciamos nos pequenos confortos -ou consolos - que São Paulo oferece em bares, restaurantes, casas de espetáculos, em troca de centenas de horas suadas em escritórios-dormitórios da nossa amada cidade.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Triste pelo Armando Nogueira

Hoje eu fiquei triste pela morte do Armando Nogueira.
E não teria nenhum motivo tão forte para isso, já que nem sou jornalista nem convivi com ele.
Mas achava engraçado aquele senhorzinho falar de futebol como se fosse poesia.
Na verdade o Armando meio que redimia todo cara que se prestava a se sentar no sofá para assistir o repeteco dos gols do se time, zapeando por duas ou três mesas redondas na noite de domingo.
Porque, convenhamos, isso é coisa de retardado, punheteiro.
Mas nas palavras do Armando, com aquele talento invejável de escrever e de expressar, futebol era arte e ponto.
E mesmo quem não gosta de futebol acabava convencido disso com todas as letras, todas as pausas, todas as entonações que o Armando era capaz de colocar em textos sobre o esporte.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Poesia

Uma vez me repreenderam dizendo que a poesia não cabe na vida prática.
Mas dá para praticar uma vida sem poesia?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Viver no automático

A era da automação trouxe muita praticidade para nossas vidas, mas também um prejuízo.
Tal como máquinas aprendemos a obedecer prontamente a comandos impostos pelas demandas do dia-a-dia.
Ou se você preferir, passamos a viver no automático.
Esse sintoma é facilmente perceptível nas pequenas ações diárias.
Por exemplo, se ao dirigir para o trabalho você dá aquela apagada e quando volta a si, já está na rampa de entrada do
escritório, você está no automático.
Assim como, se ao resolver um problema no trabalho, você recorre de primeira as soluções prontas da sua gavetinha.
Ou se você vai ao mesmo bar encontrar as mesmas pessoas para falar dos mesmos assuntos.
Ou se vai abrindo mão de oportunidades logo que elas aparecem, dando a desculpa de ser muito ocupado.
Enfim, há várias maneiras de viver no automático, todas provindas de uma única postura, a do acomodado.
Ainda bem que, em vez de viver no automático, dá para tentar viver no câmbio manual.
Digo tentar porque não é das tarefas mais fáceis.
Porque se já existem soluções prontas, práticas e óbvias para tudo, quem vai ser o idiota de, por exemplo, ficar inventando um novo caminho para o trabalho?
Ou sem noção para trocar o curso de inglês por um de ucraniano?
Viver no câmbio manual exige atenção constante para trocar de marcha no momento certo, reduzindo de quarta para segunda e depois voltando para a terceira.
Mas essa atenção redobrada é útil, pois é preciso atenção constante para não raspar a caixa de câmbio nem deixar o carro morrer.
Este ano resolvi deixar de lado o piloto automático e retomar o velho e bom câmbio manual.
E fazer tudo que tenho vontade.
Cansa bem mais, mas pelo menos não estou cansado pelo tédio, como no ano passado.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Texto etílico

Uma desculpa para escrever quando você está bêbado é que de antemão você sabe que não vai sair nada que preste.
Mas peraí, dificilmente os posts de blog prestam.
Então tá valendo, não estou fazendo nada de mais ao escrever este post sob efeitos das smirnoffs e stella artois da vida.
O único problema é que amanhã é segunda feira.
Pensando melhor, que problema o quê.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A falta de identidade

Li uma vez que a preparação do elenco de Resgate do Soldado Ryan tinha sido feito por um ex-combatente, não lembro se do Vietnã ou da Segunda Guerra.
Ele levou o grupo de atores para o mato e tentou reproduzir com eles a rotina dos soldados no front.
A certa altura, perguntou aos atores o que eles sentiriam caso fossem soldados e vissem um colega ao lado ser abatido em combate.
As respostas foram mais ou menos de mesmo teor: pena, tristeza, desespero.
Mas o treinador do elenco retrucou com um categórico "não, vocês sentiriam alívio por não terem sido vocês".
Em uma situação extrema como numa guerra, é compreensível que o instinto de preservação prevaleça e que os outros fiquem mesmo em segundo plano.
Mas eu quis reproduzir esse relato porque suspeito que hoje as pessoas andem apavoradas pelo medo de ser esquecidas.
Ainda que nossas vidas não aconteçam num campo de batalha, a dureza da competição dos dias de hoje leva a uma perda de identidade gritante.
Antes, na época dos nossos pais e avós, as pessoas tinham um lugar no mundo.
O sujeito ficava a vida inteira na mesma empresa, onde recebia o reconhecimento e o carinho dos colegas.
Em seu bairro, era amigo dos vizinhos, frequentava o mesmo clube de todos, sua ausência era sentida na pelada do campo de várzea ou nas partidas de truco do bar.
Até sua vida familiar reproduzia essa estabilidade e os casamentos em geral duravam uma vida.
Mas esse modo de existir parece ter ficado no passado.
O sentido de auto-preservação num mundo cada vez mais competitivo distanciou as pessoas e as pessoas dos seus valores fundamentais.
É estranho como aos poucos vamos perdendo nossa capacidade de nos sensibilizar.
Com o colega que foi demitido, com o mendigo na rua, com o motoboy que pilota na chuva.
Não sei se como reflexo de suas próprias atitudes, a verdade é que as pessoas estão cada vez mais sozinhas.
Não fosse assim fenômenos como as redes sociais e os reality shows, onde as pessoas buscam um reconhecimento pela auto-exposição, não seriam um estrondoso sucesso.
Até a indústria do videogame, que hoje fatura mais que o cinema, tira proveito da necessidade das pessoas se sentirem heroínas por um dia, ainda que através de um avatar.
Mas tudo isso, assim como dinheiro e sucesso, não criam uma identidade.
Identidade ainda é alcançada pelos mesmos valores de nossos antepassados: família, amizade verdadeira, amor, realização profissional, caráter, serenidade.
Mesmo que hoje as regras de mercado inevitavelmente influenciem nossas escolhas, é preciso separar o joio do trigo.
Senão corremos o risco de ficarmos eternamente emulando uma vida de sucesso, reproduzindo um modelo que não escolhemos, mas que foi vendido para a gente.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Post no blog dos outros é refresco

Acabo de escrever um post sobre culinária para o blog da amiga Karen Goldman, especialista no assunto.

Quem quiser dar uma espiada, eis o link:
http://www.blogdaherminia.com/2010/01/pitada-dica-para-nao-comer.html

Ou clique direto no link do blog em "Minha lista de blogs", aí do lado.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Gírias sexuais

O futebol é uma grande fonte de gírias e metáforas da linguagem do nosso dia-a-dia.
Mas não chega perto da contundência das nossas referências sexuais.
Gírias e metáforas sexuais entram - ou penetram - em nossas vidas muito antes da primeira vez.
Uma criança "boca-suja" mal sabe o que isso significa, apenas repete a fala dos adultos e coleguinhas de escola, e acaba achando divertido levar pito por isso.
Mais tarde, talvez por força do hábito - mas eu acredito que pela importância que o sexo tem na vida humana - os termos sexuais se tornam insubstituíveis para dar peso ao que falamos.
Dizer que algo é "fudido" é mais do que ótimo, excelente, fora de série, qualquer adjetivo mais comportado. Um equivalente para isso é o menos usual "do caralho".
No outro sentido, "Tá querendo me fuder?" não é um convite, mas um desabafo de alguém que se sente prejudicado.
"Coitado" quase ninguém se dá conta que vem de "coito", ou seja, o "coitado" está "fudido" e não sabe.
"Nem por um caralho" é quase a impossibilidade total.
Soltar um "puta que o pariu" em alto e bom som é alívio imediato para aquela batida do pé no pé da cama.
E por aí vai, o repertório é extenso e daria mais exemplos não fosse esse cu de memória que eu tenho.
Mas já deu pra perceber - hã, quem deu? - que o palavrão tem lugar cativo no dicionário do dia-a-dia.
Aliás, quando ensinamos palavrões para nossos amigos estrangeiros, nada mais fazemos do que passar para eles o básico para se virar pelas ruas do Brasil afora.
Por que somos mais boca suja do que os outros povos? Tsc, tsc, tsc, what the fuck?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Puxa-saco de si mesmo

Uma capacidade que a gente ganha com a idade é conseguir conviver melhor com as diferenças.
Tenho impressão que até aquelas pessoas teimosas, birrentas, acabam cedendo um pouco a evidência de que a verdade é algo muito pessoal para enfiar a sua, goela abaixo de outra pessoa.
A gente se torna mais condescendente com a opinião alheia, mas veja bem, condescendência não é conivência.
É até condição de felicidade preservar a sua postura perante tudo e todos, mesmo que o mundo não seja um lugar tão livre como a gente gostaria.
Mas uma boa dose de independência é necessária.
Se render ao puxa-saquismo, ser maria vai com as outras, seguir modismos, tudo isso dificulta descobrir quem você é. E se felicidade existe, só existe com a condição irrestrita de fidelidade a si mesmo. Ou se você preferir, auto-puxa-saquismo.
Porque por mais que a gente polemize, contrarie, retruque, crie desafetos e perca dinheiro, oportunidades e sucesso, o que eu considero uma das maiores riquezas é poder se encarar no espelho e se orgulhar de quem você é.
Das suas escolhas, suas opiniões, seus gostos, suas paixões, sua garra.
O patrão a quem você mais tem obrigação de prestar contas e deixar satisfeito é você mesmo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Paixão

Hoje fiquei sabendo que o Dulcídio, diretor de criação da agência de publicidade mais criativa do Brasil, está deixando o cargo para seguir a carreira de diretor de cena.
O que faz alguém que possivelmente ocupa a cadeira criativa mais cobiçada do mercado de agências, conseguida a custo de muito trabalho e ambição, trocá-la por uma aposta, que de cara já lhe renderá uma redução salarial drástica?
Ora, nada mais que paixão.
Porque possivelmente, no cargo em que ocupava, Dulcídio tinha que lidar diariamente com imbróglios burocráticos que devem tê-lo afastado de sua menina dos olhos, o ato de criar.
E para quem está afundado em afazeres chatos, a possibilidade de voltar a brincar, desta vez com uma câmera na mão, parece uma saída pra lá de atraente.
Sinal de que dinheiro e prestígio, definitivamente não são os únicos valores que movem pessoas naturalmente criativas.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Mais um pouco de Leila Diniz

"Homem é a coisa mais insegura e possessiva que existe, deve ser porque é tudo muito óbvio, muito na cara, feito a sexualidade, ou fica duro ou não fica, aí vocês repetem isso dentro da cabeça de vocês e ficam burros."

Um pouco de Leila Diniz

"Tem-se que brigar com o passado, ou melhor, estudá-lo.
Arrancar de dentro da gente as raízes burguesas e mesquinhas, as tradições, o comodismo e a proteção.
É preciso se separar de todos esses problemas criados na infância, do bom, do direito e acho que é aí, nessas separação, nesse rompimento, que a gente tem medo da solidão.
Medo de não ser aceito.
Acho que é preciso de deseducar para se reestruturar, para se chegar aos instintos verdadeiros dentro da gente, para descobrir o certo da gente.
Quando se está livre de toda capa de proteção, de boa educação, de direitinho, das normas, dos preconceitos, de tudo que é ensinado pra gente, se pode ter uma visão de vida e de mundo, uma maneira de viver muito mais livre e divertida, muito mais aberta."

Versões

Eu me considero raso em cultura musical.
Transito um pouquinho melhor em literatura, cinema e até arte.
Música é o meu fraco dentro do repertório cultural, mas também é meu fraco no outro sentido.
Quem já não foi consolado, estimulado, sensibilizado ou tocado, por uma música ouvida no lugar, no momento
ou com a pessoa certa?
Mas a música, tal qual todas as outras manifestações da arte, também tem suas limitações.
Embora pareça infinito criar com sete notas, a canção também é um formato que se esgota.
Não fosse assim não teríamos casos de plágio, arranjos e melodias que soam familiares demais para serem originais.
É que tem me acontecido ultimamente, escutando rádio ou prestando atenção em som ambiente de loja, restaurante, elevador e afins.
De repente meus ouvidos captam uma melodia prazerosa e eu me pergunto de quem seria essa novíssima composição.
Até me dar conta de que é mais uma versão de algum clássico ou de um sucesso das paradas dos anos 70, 80, 90.
Tudo bem que as versões cumprem o papel de modernizar arranjos de gravações originais que até podem soar datadas para ouvidos mais exigentes.
Mas que parece oportunismo mercadológico de um momento de aridez criativa, parece.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O por quê do sucesso de House

Sou fã, como muitos outros amigos confessos, da série de TV House.
Aquela do médico que abusa da falta de ética e resvala no mau-caratismo, mas que, com perdão do trocadilho, opera verdadeiros milagres num hospital.
Pois é, a série faz o maior sucesso e consagrou o ator principal, que saiu de papéis obscuros em filmes não menos, para o estrelato e, provavelmente, a fortuna.
Acredito que seja a mão de Deus.
Não Deus assim, com "D" maiúsculo.
Tô falando do papel que o Dr House encarna, tirando verdadeiras cartas da manga para solucionar magicamente casos aparentemente sem volta.
Se o homem comum esconde em seu íntimo o desejo utópico da imortalidade, ele encontra em House a realização dessa aspiração.
House, tão ou mais humano e errático quanto qualquer um de nós, brinca de Deus dentro de seu domínio, vingando a todos nós da crueldade de Dona Morte, fazendo gato e sapato dela.
Nem sempre, claro.
Mas só aquela sensaçãozinha de poder desviar o triho do nosso destino já garante o ibope.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Um plano B para chamar de meu

Você percebe que está ficando velho quando começa a pensar num plano B de carreira.
No meu caso, de carreira mesmo, já que não realizei o sonho da poupança própria, para viver de renda para sempre.
Enfim, também não quero passar o resto da minha vida sem produzir mais nada, de modos que venho pensando em uma alternativa.
Incrível como ainda não inventaram um teste vocacional de plano B , tamanha a quantidade de indecisos que pretendem abraçar uma segunda ou terceira carreira. São as mesmas pessoas que já fizeram esse teste lá pelos 18 anos de idade, menos as que enriqueceram no intervalo. Ou seja, quase todos.
Aliás se esse teste existisse, poderíamos apontar alguns prováveis resultados, de acordo com o perfil do candidato.
Para os pouco originais, a carreira clichê: dono de pousada.
Para os que adoravam uma happy hour depois do expediente, barman.
Para os ex-workaholics, professor de ioga.
Para maus dentistas, açougueiro.
E por aí vai. Ou iria.
Eu já pensei na pousada, numa carreira no cinema, em design de objetos e em qualquer ocupação no ramo do turismo.
Confesso que já me deu uma preguicinha de pensar nessa segunda carreira.
Pô, por que em ao invés de compra tanta porcaria eu não fiz meu pé de meia?

domingo, 3 de janeiro de 2010

Quero ser pequeno

Neste Natal errei no presente do meu sobrinho João Pedro.
Tô careca de saber que ele adora caminhão, mas sabendo que ele já tem uns 40, quis variar e comprei um daqueles carros de controle remoto cheios de manobras firulentas - na verdade, é como se tivesse comprado para mim.
De nada adiantou aquele aviso de "acima de 8 anos" na lateral da embalagem -O João Pedrinho tem apenas 3 anos. Meu sobrinho nem abriu a caixa, ao contrário do que acontece quando debaixo do papel de embrulho ele encontra um caminhãozinho mequetrefe.
Daí que eu me peguei pensando porque a gente quer que os guris cresçam tão rápido. A gente acha uma gracinha criança falando que nem adulto e eu vira e mexe falo com meu sobrinho de igual para igual como se ele fosse obrigado a entender a mensagem.
Justo eu que sempre reivindiquei poder ser uma criança eterna.
Vejam bem, não me entendam errado. Não estou falando do crianção imaturo que não assume suas responsabilidades - embora as vezes até esse possa ser perdoado.
Tô falando dessa coisa de preservar o espírito brincalhão mesmo, a malfadada criança interior.
Lembra daquele filme "Quero ser grande"?
O rapazinho foi atendido em seu desejo de se tornar adulto para perceber que o mundo dos adultos pode ser tão ou mais infantil do que o universo das crianças. Aliás, o mundo corporativo chega a ser infantilóide em suas disputas de poder e ego - eca!
Resultado: preferiu voltar a infância, onde poderia ser criança de fato e direito, naquela inocência que a vida nos induz a perder.
Taí: prefiro resgatar essa criança do que viver essa criancice que muito adulto por aí acha que é sério.

Feliz ano de novo

Desta vez esqueci de fazer os tradicionais pedidos, não comi lentilhas, não guardei sementes de romã na carteira nem me lembro da cor da cueca que usei - só sei que não era nova, o que invalida a superstição.
Também não pulei 7 ondinhas, com preguiça de atravessar o riozinho que separava a casa da areia da praia - ia me molhar até a cintura, não só até as canelas como é admissível para um fresquinho como eu.
Juro que não é cinismo nem falta de fé na vida, na renovação do ritual do ano novo.
É que na hora não bateu aquele espírito de reveillon, aquela micaretagem básica que faz a gente sair pulando abraçando todo mundo e requebrando ao som de marchinha de carnaval antecipado.
Mas tudo bem, o fato da passagem não ter dado liga em mim não quer dizer desânimo, cinismo ou qualquer sentimento que desqualifique minha fé num ano bom.
É que esse papo de esperança encheu um pouco.
Quem espera sempre alcança? Puta mentira.
Vá alcançar mais e esperar menos.
Feliz ano novo pra todo mundo.