sexta-feira, 22 de maio de 2009

Duas cabeças, uma sentença

Herbert e Hubert eram irmãos que não se desgrudavam. Literalmente. Eram siameses e dividiam um único corpo, sobrecarregado pelo peso de duas cabeças. Logo cedo se revelaram personalidades bem diferentes, Herbert mais introvertido, intelectual e reflexivo, Hubert atlético, pragmático e solar. Apesar das diferenças tiveram uma infância harmoniosa, que pouco ficava devendo à de quaisquer irmãos gêmeos. Só vieram a bater cabeça - apenas no sentido figurado - mais tarde, na adolescência. Herbert começou a se destacar em oficinas literárias, ganhou alguns prêmios de literatura e passou a ser incentivado a seguir carreira. Por outro lado, Hubert já era visto como "jogador diferenciado" no juvenil do Boituva Atlético Clube e, segundo os boateiros de plantão, estava na mira de olheiros dos clubes da capital. O problema começou quando ambos resolveram priorizar suas respectivas carreiras. Herbert queria passar tardes inteiras na biblioteca , na frente da tela do Word, enquanto Hubert puxava o irmão para os treinos e concentrações do Boituvinha. Todo mundo sabe que uma pessoa dividida não chega a lugar nenhum e essa era a angústia de Herbert e Hubert. Enquanto cada um insistisse em puxar o corpo para seu lado, o máximo que conseguiriam ser era meio escritor e meio jogador de futebol. O conflito se instalou e durante meses os gêmeos se embrenharam na pior das brigas - daqueles que não se consegue separar as partes envolvidas. Só não se machucaram porque isso seria mutilar a si mesmos. Mas passavam o dia com a cara virada para o outro e a noite sofriam de torcicolo. Até que um dia, para tentar selar as pazes, seus pais lhe deram de presente um lindo violão. Foi paixão a primeira arranhada. Herbert, o intelectual, fazia os acordes e solos com a mão esquerda. Hubert, o atleta, era o responsável por vigorosas batidas e palhetadas. Herbert se destacava pelas composições inteligentes. Hubert, por uma primeira voz potente. E esse foi o embrião da dupla sertaneja mais afinada, sincronizada, ritmada e festejada da história. A única que verdadeiramente cantava e tocava como se fosse uma única pessoa.

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