Tem gente que não gosta de se ver em foto. Eu acho bem pior me ver no espelho. Fotos registram momentos felizes, revisitados com nostalgia. Já o espelho é a soma de todos os instantâneos da vida. Os alegres, os tristes e os entendiantes. É um Frankstein de vários vocês, de todas as épocas. Os cabelos brancos, por exemplo, juntam a mecha dos 8 meses de desemprego, com a mecha da sogra morando em casa, com a mecha das desilusões amorosas e por aí vai. A mesma coisa com as rugas: a do filho adolescente que não ligava está ao lado da ruga das noites viradas de trabalho. E claro, as cicatrizes: a do primeiro tombo de skate, a da cesariana. O Espelho-Frankstein também é uma junção de partes do corpo. O braço direito grosso contrastando com o esquerdo fino, do tenista destro. A orelha-mandiopã do lutador de jiu-jitsu. A unha preta do pé, do esquentadinho. A falta do seio esquerdo da sobrevivente do câncer. O Espelho-Frankstein nada mais é do que a sua imperfeição desnuda. A maioria das pessoas não trocaria o seu por outro. Frankstein por Frankstein, cada um que fique com o
seu.
Timing é tudo
Há 8 anos
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