quarta-feira, 20 de maio de 2009

Espelho meu

Tem gente que não gosta de se ver em foto. Eu acho bem pior me ver no espelho. Fotos registram momentos felizes, revisitados com nostalgia. Já o espelho é a soma de todos os instantâneos da vida. Os alegres, os tristes e os entendiantes. É um Frankstein de vários vocês, de todas as épocas. Os cabelos brancos, por exemplo, juntam a mecha dos 8 meses de desemprego, com a mecha da sogra morando em casa, com a mecha das desilusões amorosas e por aí vai. A mesma coisa com as rugas: a do filho adolescente que não ligava está ao lado da ruga das noites viradas de trabalho. E claro, as cicatrizes: a do primeiro tombo de skate, a da cesariana. O Espelho-Frankstein também é uma junção de partes do corpo. O braço direito grosso contrastando com o esquerdo fino, do tenista destro. A orelha-mandiopã do lutador de jiu-jitsu. A unha preta do pé, do esquentadinho. A falta do seio esquerdo da sobrevivente do câncer. O Espelho-Frankstein nada mais é do que a sua imperfeição desnuda. A maioria das pessoas não trocaria o seu por outro. Frankstein por Frankstein, cada um que fique com o
seu.

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