quinta-feira, 4 de junho de 2009

O pequeno grande poder

Desde que Deus se criou - Ele pode, Ele é Deus - automaticamente inventou o poder. Depois, ao criar os animais, Deus deve ter imaginado que fosse útil eleger um líder para cada grupo, para conduzí-lo e assim garantir a sobrevivência dos seus. Deu certo com formigas, leões e elefantes. Deu um problemaço com os homens. Porque quando contaram que era o filho favorito do Cara lá de cima, feito à sua imagem e semelhança, o homem, claro, não se conteve. Descalçou as sandálias da humildade. Achou que era Deus também. Compreensível que esse sentimento atinja presidentes da república, astros de Hollywood e o Donald Trump. Mas o poder, praga que é, se alastrou pirâmide social abaixo. E hoje você encontra o poder bem ou mal exercido em qualquer grupo mínimo de seres humanos. Bastam duas pessoas. É pai com filho, dona de casa com empregada, professor com aluno, aluno com professor. Mas a manifestação do pequeno poder fica evidente em grupos um pouquinho maiores. Por exemplo, os condomínios residenciais. A hierarquia é composta pelo síndico, que está acima do subsíndico, que cobra o zelador, que dá esporro nos porteiros, que menosprezam os faxineiros. As leis que regem esse mundinho são definidas na reunião de condomínio, uma espécie de sessão da câmera dos deputados, também quase sempre vazias. Ali são decididas questões de alta relevância, como a briga do chihuahua do 23 com o pinscher do 144 ou a instalação do pisca-pisca de natal na fachada. Mas uma vez que a reunião termina, a execução das medidas ficam com o síndico. Ou melhor, a bomba está na mão do zelador. Mas vai sobrar na reta dos porteiros. Que por sua vez, vão descontar nos faxineiros. Daí é natural que as classes menos favorecidas se revoltem. Se você, como eu, costuma trocar idéia com porteiro de vez em quando, sabe que dentro do condomínio existem rusgas como em qualquer outra organização. Porteiro critica outro porteiro, ambos não falam bem do zelador, que abomina o síndico, que muitas vezes é visto como oportunista pelo resto dos moradores, já que está isento da taxa de condomínio. Enfim, por menor que seja o grupo onde o poder se manifesta, haverá gente lutando por e se incomodando com ele. E se o poder já é um bichinho que ataca os homens num condomínio de 10, 15, 20 andares, imagine no topo do mundo.

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