terça-feira, 16 de junho de 2009

É feio rir.

Uma vez, ainda iniciante na carreira de redador, fui a uma das edições da Semana de Criação Publicitária. Ao final da palestra de um figurão gringo, lembro que um rapaz na platéia levantou a mão e perguntou o que ele achava de comerciais "emocionais". Por aqui a gente sabe que ele se referia aos comerciais dramáticos, que fazem pit-boy deixar escorrer lágrimas. Mas o gringo não interpretou da mesma forma, já que também considerava o humor uma emoção e das mais importantes. Isso me fez constatar o quanto a comédia não é levada a séria nem valorizada no nosso dia a dia, principalmente no mundo corporativo. Quantas vezes ouvi de cliente, ao encomendar ou analisar um trabalho criativo, para evitar as "gracinhas". Quase sempre quando as "gracinhas" em questão eram o cerne da idéia. Mas a gente encontra essa desvalorização do humor em todas as partes. Vejo isso no cinema, por exemplo. Não me lembro da última comédia que ganhou um Oscar. Tô falando da comédia-comédia, não de subgêneros como a comédia romântica. Refiro-me ao besteirol mesmo, a piada pela piada. Para mim isso tem duas explicações. Uma é que fazer uma ótima comédia é das tarefas mais difíceis (faça o teste: entre numa locadora e constate a escassez de boas comédias comparado a fartura de bons dramas e thrillers). A outra explicação é que os acadêmicos devem achar uma afronta entregar o sério e respeitoso Oscar a alguns "vagabundos que vivem de fazer rir". Não poderiam estar mais enganados. Por trás de suas máscaras de palhaço, grandes comediantes da história eram tidos como pessoas tristes. Charles Chaplin não era propriamente feliz. Seu talento brilhante era apenas a expressão de sua sensibilidade. Alguém já disse que humor é o maior e inequívoco sinal de inteligência - não por acaso as mulheres adoram os homens que as fazem rir. Mas nesse mundinho hipócrita em que tanta gente se leva tão a sério, alguém que vive achando e fazendo graça por aí só pode ser um completo insensato. O mais irônico é que justamente as pessoas mais competentes são as que encaram seu ofício como seu principal brinquedo, como uma grande brincadeira. Aposto que não há lugar mais prazeroso e confortável para Bill Gates do que uma cadeira na frente de um computador. São os diletantes, os que fazem o que fazem pelo prazer de fazer. Tanto isso é verdade que, quando queremos dizer que alguém é um expert em algo, dizemos que essa pessoa "faz aquilo brincando". Infelizmente o sentido da brincadeira foi deturpado e a gente é obrigado a ouvir de gente "séria" que brincadeira tem hora, como se ainda fôssemos crianças a obedecer nossos pais. O perigo disso é a gente se deixar levar pela idéia de que viemos ao mundo para só levar a sério coisas como cargos, status e dinheiro. Quando talvez a coisa mais séria da vida seja o brincar.

2 comentários:

  1. Coisas da cultura católica apostólica romana onde o sacrifício é valorizado e não o prazer. Que saco, não?

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  2. Adorei esse texto. Sabe que todas as pessoas super brincalhonas que conheço são muito inteligentes. E as mais agradáveis.
    Coisa bem chata gente séria e mal humorada. ( ô vidinha bem chata que deve ser, sem graça!! kkk)
    Bjss

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