quinta-feira, 11 de junho de 2009

A cidade indoor

Sabe aquele tapa-olho que colocam no burro para ele não se distrair enquanto segue em frente? Parece eu dirigindo na cidade de São Paulo. Sem olhar para os lados, mirando o destino com o olhar perdido no asfalto e fazendo movimentos de piloto automático. Para isso contribui que 70% dos caminhos que faço são repetições diárias do trajeto para o trabalho, ou para o supermercado, ou para o mesmo bar de sempre. Ou seja, meu senso de direção raramente é acionado, quase sempre está no modo stand-by. Mas o cacoete de não olhar para os lados também vem do desconforto de não conseguir parar num sinal em paz. Provavelmente serei abordado por vendedores ambulantes, entregadores de jornal gratuito, de folhetos imobiliários ou por aqueles indefinidos entre pedintes e assaltantes e que por isso me põem apreensivo. Eu, dentro do meu carro, lembro aquele filme antigaço do John Travolta, "O rapaz na bolha de plástico". Com falsa sensação de proteção pelo insufilm - na verdade, nem isso, porque o meu é bem clarinho, dá para enxergar tudo - e música no último volume, me isolo como numa bolha hermeticamente fechada sobre quatro rodas. Meu carro na verdade é um vagão de trem que vai de origem a destino sem paradas em estações. O expresso Vila Mariana-Vila Olimpia, com desvios esporádicos para a terceira vila da minha vida, a Madalena. Invejo alguns europeus, que conseguem atravessar a cidade inteira de metrô e trem, transporte público de verdade, sentindo o pulsar das ruas todos os dias. Porque ao contrário do ex-presidente Figueiredo, eu gosto do cheiro do povo. Essa vida indoor que a gente leva em São Paulo é prejudicial a saúde. Não é a toa que paulistano se pica daqui feriado si, feriado sim.

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