quarta-feira, 1 de julho de 2009

Desculpe, só estou cumprindo ordens

A frase acima, geralmente proferida por um segurança, garçom ou porteiro, já não te irritou pelo menos uma vez? Normal, você é brasileiro(a), carrega no seu dna o famoso "jeitinho" e quase sempre fica contrariado quando alguém tenta lhe impor regras, mesmo quando no fundo, no fundo, sabe que está errado - e se o contrariado for burguês sem classe, então, baixa um coronelzinho arretado, que sai de baixo. A ironia é que, se por um lado a gente se irrita em ter de seguir normas, por outra adora cagar uma regrinha por aí. E esse hábito pouco higiênico têm se proliferado, tamanha a insegurança que paira no ar nesses tempos atuais pré-apocalípticos. Confesso que fico irritado com tanta gente apontando para as mais diversas direções para vender um "horizonte seguro" à multidão cada vez maior de almas sem GPS. Isso em todas as esferas da vida humana, seja profissional, religiosa, amorosa, relativa à saúde, etc, abrindo enormes brechas para a exploração mercantilista. Problemas de relacionamento? Chovem livros, palestras, programas de rádio e tv, folhetos de vidente, vendendo a solução. Quer ser o profissional do futuro e garantir seu emprego? Temos toda a sorte de cursos, seminários e workshops a preços convidativos. O apocalipse está perto? Calma, ainda é tempo de purificar sua alma em retiros, tomando parte em perigrinações e, principalmente, doando seus bens ao Senhor. Por favor, me poupe. Não aguento mais ouvir bulshiteiro vendendo o próximo remédio que vai aliviar minha tensão de não saber para onde o mundo vai. Isso ninguém nunca soube. Só que a confluência, ou para ser mais "muderno", a convergência simultânea de tantas ameaças à especie humana - falo de crise econômica, destruição da natureza, reconfiguração do emprego, concordata da GM - deu origem a uma pandemia de insônia e roeção de unha como nunca vistos. E daí que até o metro quadrado de abrigo anti-nuclear deve ter batido recorde de valorização. Então, para não cair nessa neura coletiva - também sou de ferro, uai - venho sempre com minhas evasivas, que também não deixam de ser minhas regrinhas. Respondo que não sei o que fazer, que vou esperar pra ver no que vai dar, que seja o que Deus quiser. Nesses momentos de insegurança-master, sou confortado e endossado por Sócrates, que já dizia sabiamente há milhares de anos: "Só sei que nada sei".

Um comentário:

  1. Adorei os dois últimos textos!
    E... que bom te ver Marcelo!!!!!!!! hehehe
    Bjss

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