domingo, 23 de agosto de 2009

Vira-latinhas de caviar


Acabo de ver uma entrevista com o Joel Santana, o técnico brasileiro que vai comandar a seleção sul-africana, anfitriã da próxima copa.
O Joel, que esteve recentemente em evidência na mídia não por ser um brasileiro bem-sucedido lá fora, mas pelo inglês precário que desinibinadamente vomitou em entrevistas e que por isso foi motivo de deboche em programas de tv e videos de sites.
Era justamente disso que o folclórico treinador reclamava, de prestarem mais atenção aos seus modos trapalhões do que as suas conquistas profissionais.
Tem razão o Joel, mas ele não é a única vítima dessa mania que brasileiro tem de achincalhar quem se sobressai, mesmo aqueles que atingem status de sumidade internacional.
Vide por exemplo, Rubinho Barrichello, que teve o azar de herdar a sombra de Ayrton e, parte por causa disso, nunca foi respeitado.
Lembro que o Guga, apesar de ter sido o número um, era sempre muito criticado quando perdia em primeiras rodadas, assim como pelos maus resultados do crepúsculo da carreira.
Paulo Coelho, apesar do enorme sucesso em tantos países, por aqui é visto como um canastrão sortudo.
Rodrigo Santoro foi ridicularizado ao dar a cara para bater em pequenos papéis de filmes americanos, em vez de ser valorizado por ser nosso representante em hollywood.
E por aí vai, a lista de exemplo é extensa e só torna evidente que ainda não conseguimos superar o complexo de vira-lata, que Nelson Rodrigues tão bem diagnosticou como traço da psiquê brasileira.
O fato que provocou o insight no jornalista, nossa derrota desastrosa em casa para o Uruguai em 50, foi só a gota d'água de tantas manifestações que levaram Nelson a concluir que somos vítimas de um derrotismo arraigado.
Mas, deixando de lado a investigação de suas causas, eu me pergunto o que fará um dia o brasileiro tirar o rabo entre as pernas e, da mesma maneira que nossos hermanos argentinos, aprender a valorizar suas próprias qualidades e virtudes.
Porque me parece que quando destruímos nossos heróis, quando não aceitamos seus lapsos de desempenho, estamos na verdade só confirmando nossas suspeitas de ser um povo inapto, vagabundo.
Uma vez já disseram "Infeliz do país que precisa de heróis".
E o Brasil se encaixa como uma luva nessa categoria de país.
Como se em cada cidadão não pudesse brotar a centelha do herói que toma a iniciativa de fazer acontecer a própria vida, minimizando a carência pelo sucesso projetado nos feitos dos outros.
Chega de ser república das bananas, país do futebol, ponto de turismo sexual.
Chega, principalmente, de ser um grande país em potencial.
Viva Joel Santana e Felipão.
Paga pau de gringo, o caralho.

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