terça-feira, 4 de agosto de 2009

Madrugada dos anjos



A balada já entrava em curva descendente quando Gustavinho, já trêbado, viajando no seu próprio cyberespaço, avistou uma loira linda que parecia ser a própria fonte de luz negra da pista de dança. Claro, abordou-a:

- E aí, meu anjo, você caiu do céu?
- Psiu...por favor, não espalha.
- Não espalha o quê, chuchu?
- Você é o único que me descobriu.
- Modéstia sua, chuchu, olha quanto tubarão em volta.
- Não, eu disse que você descobriu que eu caí do céu.
- Tá me zoando só porque tomei umas biritas? Tô calejado, mina.
- Olha aqui atrás, por baixo do casaco.
- Vixi...é forro de pena?
- Não, mané, são minhas asas. Eu sou uma anja.
- E tá fazendo o quê, aqui?
- Ponta em filme do Win Wenders é que não é. Eu dei é uma escapadinha de casa, escondido do meu Pai.
- Quem é o seu pai?
- O mesmo que o seu, Deus, o Senhor lá de cima.
- Que pai nada, vai ser meu sogrão.
- Anjos não podem casar. Não podem nem paquerar, eu é que saio pra dar uns beijos de vez em quando.
- Já que tocou no assunto...
- Ih, sai pra lá. Eu tô paquerando aquele cara ali.
- O Luis? Não, todos menos o Luis. É o maior mau caráter, fura-olho da porra.
- Mas é um gato, hein? Me dá licença que eu vou lá falar com ele. Tenho que estar em casa daqui a pouquinho.
- Mas, anja, cê nem vai deixar eu gastar meu repertório de cantadas temáticas?
- Hã?
- Por exemplo, "Sabia que eu arrasto uma asa por você?".
- Tsc, tsc, tsc...
A anja se afasta do rapaz e caminha em direção ao seu alvo. Sem perder tempo, como uma mulher emancipada, ela o aborda:
- Seu nome é Luis, né?
- É sim.
- Gostei de você, gato. Quer ficar comigo?
- Não vai dar, gatinha.
- Por que?
- Porque você é um anjo que caiu do céu.
- Ih, você também usa essa cantada fraca?
- Não, percebi que você é uma anja mesmo. E meu pai não quer que eu me relacione com gente da sua espécie.
- Nossa, como você é grosso. Eu é que não quero me relacionar com gente da sua espécie.
- Ainda bem, né, meu anjo? Passa a mão aqui na minha cabeça.
A anja passa a mão na cabeça do rapaz e sente duas saliências bem no cocoruto. Ela sente também um cheiro de enxofre vindo do rapaz e afasta rapidamente a mão como se fosse queimá-la. O rapaz estenda a mão e se apresenta:
- Prazer, meu nome é Luis. Luis Cifer.

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