domingo, 20 de maio de 2012

O desejo de ser igual

Houve um tempo em que o mundo ocidental temeu o comunismo.
Ainda teme, mas o fantasma ideológico já foi muito mais assustador.
Lembra antes da chegada do PT ao poder?
Os adversários assombravam com ameaças do tipo "você terá que ceder um quarto da sua casa a um militante vermelho".
Pois é, o PT venceu, se mostrou tão corrupto quando os outros, e a dialética comunismo versus capitalismo se dissolveu, vide o sucesso comercial da comunista China.
Do ponto de vista sócio-econômico, ainda vivemos uma desigualdade abismal.
Mas no plano ideológico, nem tanto.
O capitalismo do mundo globalizado e principalmente emergente, trouxe a reboque uma sociedade não igualitária, mas igual.
Igual nos hábitos de consumo, no jeito de pensar, na opção pelo óbvio.
Não que não exista a distinção, até porque o culto à celebridade virou indústria.
É que agora a bola da vez parece queimar nos pés, de tão rápido que passa.
Outro dia mesmo só se falava em Messi nas páginas de esportes.
Mas bastou a desclassificação do Barcelona na Champions para desmascarar a humanidade do semi-deus argentino.
Estrelinhas de novela passam como cometas pelo horário nobre, assim como sucessos musicais do tipo chiclete desgrudam dos ouvidos com uma facilidade impressionante.
Mas isso estaria acontecendo mesmo em maior escala ou é apenas uma suposição de blogueiro sem assunto?
Que a humanidade sempre buscou seu lugar ao sol, não é nenhuma novidade.
Que 7 bilhões de pessoas brigando por um espaço que, pelas previsões do aquecimento global, tende a diminuir, acirra a disputa, é constatação óbvia.
Então é natural concluir que a passagem do bastão tende a se acelerar.
Dentro dessa perspectiva, valerá a pena queimarmos anos de nossa vida em esforços por um ideal?
Observando o pessoal por aí, começo a suspeitar que não.
Para ficar no exemplo do mercado de trabalho, já não vejo tanta gente disposta a repetir os yuppies dos anos oitenta.
Talvez porque a geração atual seja justamente a dos filhos daqueles.
Talvez porque hoje a promessa de sucesso se reduziu a isso, uma promessa.
Não vejo nenhum problema nesse, digamos, conformismo.
Apenas temo que as grandes corporações - como se dizia das ameaças comunistas - esvaziem o valor do indivíduo, em detrimento de um falso discurso igualitário.
Porque esse "conformismo" - e porque não dizer "desejo" - em ser mais um, infelizmente não leva a uma sociedade mais igualitária, principalmente aqui no Brasil, onde os interesses de uma minoria ainda ditam as cartas.
Como disse Alain de Bottom em uma palestra sobre "Meritocracia", precisamos buscar maneiras alternativas de partilhar o pão, porque a divisão de talentos e recursos não é igualitária, ou seja, o mundo não é mesmo justo.


Um comentário:

  1. Só pra dizer que li e adorei. O texto tá tão perfeito que não há o que comentar.

    ResponderExcluir