sábado, 22 de outubro de 2011

Não precisamos

Você chegou da cidadezinha do interior de mala e cuia, com dinheiro contado, porém abastado de fé no futuro.
Morou na pensão perto da rodoviária, de favor na casa de parentes ou amigos, na república com mais 5 ou 6 calouros ou veteranos.
Consegue se formar, arruma seu primeiro estágio, com sorte seu primeiro emprego e pouco a pouco vai provando aos que ficaram na sua hometown que você não estava errado.
Seus sonhos vão se tornando realidade e sua conta bancária cresce proporcionalmente, assim como seu padrão de vida.
Pode não ter se tornado um ícone na sua área, mas é sim um bom profissional e deixou para trás milhares de candidatos que um dia cobiçaram sua posição.
Mas ao mesmo tempo que se sente realizado, tem que lidar com a ambiguidade de querer manter o que conquistou e o desejo de jogar tudo para o alto, para explorar praias ainda virgens da sua vida.
De um lado, novas situações como a formação de uma família, mantém seus pés cravados no chão.
De outro, ter feito a mesma coisa por 15, 20 anos faz você sonhar com novos horizontes, sejam eles profissionais, geográficos e até de estado civil.
Fato é que todo mundo tem a oportunidade, se é que não tem a obrigação, de se questionar a respeito da própria vida, visto que uns 80, 90, 100 anos aqui é tudo que nos foi dado.
Àqueles que chegaram à conclusão de que precisam mudar de rota, deve ser dada a oportunidade do erro, posto que o maior deles é não fazer a tentativa.
E ao partir em direção à nova jornada, que eles reúnam a sabedoria do desapego, para que deixem para trás tudo que foi construído, ou destruído, em tempos passados.
Que eles se lembrem de um tempo longínquo, onde os dias eram preenchidos com tardes livres, peladas com os coleguinhas, bolinhos de chuva e beijos de boa noite.
Onde não havia negociação de mesada e ninguém precisava ter bicicleta do ano.
É só parar para pensar para concluir que não precisamos de quase nada a mais do que já tínhamos naquela época.
E que mesmo no auge da maturidade, uma nova infância é sempre possível.

2 comentários: