quarta-feira, 15 de junho de 2011

Mania de explicação


Você conhece "Mania de explicação" da Adriana Falcão?
É um livro infantil "lindinho" sobre uma garota que tem explicações muito pessoais sobre as coisas da vida, usando metáforas poéticas inspiradíssimas para traduzir sua visão de mundo.
É um achado, uma grande sacada da autora, que torna o livro muito recomendável também para os adultos.
Bom, mas esse preâmbulo foi somente para falar do contrário, que são as explicações nada poéticas e totalmente dispensáveis do dia a dia.
Como por exemplo as justificativas do mundo corporativo.
Nesse mundinho já ficou institucionalizado que todo e qualquer assunto precisa de uma explicação que a justifique.
Se esse comportamento antes era restrito a áreas onde a formalidade impera, como no ramo da advocacia ou engenharia, hoje a mania de explicação está disseminada em todo tipo de negócio, mesmo aqueles onde a subjetividade deveria se sobrepor.
É o caso da minha área de atuação, a propaganda.
Na rotina atual de uma agência de propaganda, a divisão do tempo empregado está mais ou menos assim: 5% para a criação de idéias e 95% para justificativas e reavaliações.
Se de um lado pouca energia é empregada em inovação, gastamos uma Itaipu diária em encontrar explicações tangíveis para sustentar a mínima idéia junto ao cliente.
O que reflete a incapacidade das pessoas de tomarem decisões sem atribuir a outrem a responsabilidade por elas.
O bom e velho feeling, que nos tempos românticos eram bons guias para tomadas de decisões, hoje foram substituídos pelos achismos cientificamente provados dos institutos de pesquisa.
O que não significa que deixemos à mercê deles a decisão final. As pesquisas servem para apoiar preferências, mas nunca para desdizê-las. Nesse caso é melhor pesquisar de novo, pois "algo deve ter saído errado".
Fico imaginando se essa moda ultrapassar os portões corporativos e se inserir no comportamento social de maneira generalizada.
Simples propostas como um convite para ir ao teatro ou ao cinema exigirão a montagem de Power Points apontando as vantagens e desvantagens de cada uma para o convidado.
Nenhum filho torcerá mais por um time influenciado por um pai ou um tio mais fanático. Daqui para frente os garotinhos serão submetidos a análises profundas sobre as razões para torcer para essa ou aquela agremiação.
Se apaixonar então, será ainda mais complicado. Somente após uma análise fria envolvendo variáveis como personalidade, histórico, pontos em comum e outras particularidades do casal é que se poderá avaliar a potencialidade de uma união amorosa.Até para juntar os trapinhos sem oficialização será melhor que os casais contratem um consultor, ainda que de segunda linha.
O risco é que o mundo se transforme numa imensa Alemanha ou Japão, com regras cada vez mais rígidas suplantando a espontaneidade, a criatividade, o improviso.
Um mundo mais orquestra sinfônica e menos jam sessions.
Nada contra música clássica, mas hoje, mais do que nunca, estamos de saco cheio da previsibilidade das partituras.

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