quarta-feira, 15 de julho de 2009
Por um triz
Quem já foi a Buenos Aires pode supor que a Argentina, em algum momento, já foi ou esteve para ser um país de primeiro mundo. É um pouco de exagero dizer que trata-se de um pedaço da Europa na América do Sul, como gostam de apregoar os argentinos mais ufanistas.
Mas com seus belos edifícios e monumentos projetados por arquitetos importados do velho mundo, não há como negar que Buenos Aires é uma baita cidade. Por lá tudo é muito civilizado. Por conta do apetite voraz do leitor portenho, encontram-se livrarias imensas e fartas em títulos - dizem que é ponto de encontro de jovens argentinos. A tradição européia cultivou o hábito de frequentar cafés e Buenos Aires dispõe de alguns com mais de cem anos de existência. Existem regiões com vocação turística, como a Recoleta e o Caminito. E como não podia faltar a uma cidade "européia", a feira de antiguidades aos domingos, em Santelmo.
Não à toa, Buenos Aires já contabilizou mais turistas num ano do que em todo o Brasil.
Hoje, dia em que o time do Estudiantes tirou a mãozinha da taça da Copa Libertadores que os cruzeirenses já contavam como certa, eu me pego indagando: por que é que os argentinos, com tudo a seu favor, ainda não estão no primeiro time dos países?
Ok, não sou economista e conheço pouco da história política argentina para tecer uma teoria a respeito. Sei que, como aqui, sobreviveram a uma ditadura militar - a mais impiedosa da América do Sul - e já na fase democrática, caíram nas mãos de políticos igualmente corruptos.
Mas, for god‘s sake, eles têm terras férteis, indústria, turismo desenvolvido e, o item mais importante, um povo educado e com um forte sentimento de nação. E pra ajudar, eles não comemoram uma semana do tango, ou seja, o ano deles não começa depois do carnaval como o nosso. Então por que é que não vingam?
Era de se esperar que no mínimo se equiparassem a uma Holanda, uma Áustria, em distribuição de renda e qualidade de vida.
Mas tem-se a impressão de que a Argentina está sempre batendo na trave do mundo desenvolvido.
Parece até que o tango foi inventado para fazer coro ao temperamento melancólico e auto-piedoso do argentino, em especial do povo de Buenos Aires, cidade que dizem concentrar a maior relação de psicanalistas por habitante de todo o planeta.
Se a Argentina não chegou lá ainda, não é por falta de garra, de espírito de luta, de inconformismo. Isso, como demonstram os times deles na Libertadores e as mães da Plaza de Mayo, para eles nunca há de faltar.
Suspeito que no campo político e econômico, os argentinos já teriam jogado a toalha. E assumido sua verdadeira vocação: a de nostálgicos a lamentar o grande país que poderiam ter sido.
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