sexta-feira, 3 de julho de 2009

O apuro do olhar


Na época da faculdade, me meti a fazer curso de desenho e fotografia. Esperava com isso complementar minha formação de publicitário, ainda sem saber o que catzo essas habilidades me ajudariam na carreira - depois descobri que, sob certo ponto de vista, até curso de corte e costura ajuda. Foi então que tive contato com princípios básicos do desenho, por exemplo, desenhar com pontos de fuga. E conceitos elementares da fotografia, como fotometria, revelação e ampliação. Acabei não desenvolvendo nenhuma das duas técnicas, embora esse be-a-bá tenha sido útil para compreensão do mais importante dessas manifestações artísticas. Estou me referindo ao olhar. De nada adianta o domínio completo da técnica sem o olhar apurado do artista. Só que o olhar, embora nos talentosos seja mais intuitivo, pode e precisa ser aprimorado por qualquer um ao longo do tempo. E isso só o exercício constante de desenhar e fotografar pode dar. Sei que estou chovendo no molhado, mas o treino do olhar, para quem mexe ou trabalha com atividades criativas, nem sempre é encarado como tarefa. Faz parecer que todo gênio nasceu super-dotado. Mas se até para ouvir música clássica é preciso treinar o ouvido, que dirá treinar o olhar para desenhar, pintar ou fotografar melhor. Faz algum tempo que comprei uma dessas câmeras automáticas da Sony para registrar as gandaias da galera e eventualmente, sair por aí fotografando algo "mais artístico". Percebi que os recursos da máquina produzem efeitos na foto que até podem enganar um leigo. Mas para os mais experimentados, nenhum desses truques compensam a falta do olhar de fotógrafo. Essa admiração pela lente interna desses artistas da imagem é que me fez fã de grandes fotojornalistas. É como se, em vez de fotografar, eles pintassem quadros na película. Basta conhecer, por exemplo, um pouco do trabalho do Henri Cartier Bresson. É a prova de que técnica apurada é apenas o atalho para fazer emergir a visão do artista. E de que não adianta só a tecnologia desenvolver ferramentas cada vez mais avançadas para a execução da obra. Porque vai ter sempre uma câmera, um pincel ou um computador melhor no futuro. Mas não há futuro para o artista sem o constante treino do olhar.

Um comentário:

  1. Eu também comprei uma máquina da Sony, que tem dezenas de lentes diferentes, efeitos... mas não fiz nada do que ela oferece... nem testei... Acho que me falta o tal olhar...
    Prefiro desenhar, eu aprendi essa técnica de usar um ponto de fuga, na arquitetura, adoro desenhar, pintar, criar...
    Desisti da publicidade, eu gostava das minhas idéias e achava as dos outros fraquinhas... kkkkkkkkkkkk Cansei. Isso acontece comigo com bastante frequência. Pppffff
    Estou sempre experimentando e nada me agrada. Eterna insatisfeita... kkkkk
    Bjss

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