segunda-feira, 13 de julho de 2009

Mania de listas

Você já deve ter percebido como o ser humano adora uma lista dos dez mais, dez menos, top isso, top aquilo. Hoje mesmo tava vendo na banca a capa de uma revista que trazia os cem melhores livros de literatura brasileira. Ok, um pouco de orientação para leigos vai bem, mas há limites.
Porque a história de classificar , dar notas, fazer um ranking virou um modismo tal que parece que ninguém mais consegue dar uma opinião que não seja endossada por uma publicação dessas. E tem muita balela. Com que base, por exemplo, alguém pode afirmar que fulana é a mulher mais sexy do planeta? Ou que sicrano é um dos mais desejados? Bom, a gente sabe que essas classificações têm mais a ver com a popularidade do artista naquele momento. Mas a mídia tenta fazer acreditar que são de fato os mais lindos e lindas do mundo. E dá-lhe comprar revistas e guias.
Mas os rankings não se restringem aos melhores artistas, restaurantes, funcionário do mês, os mais vendidos de Veja. Antes fosse. Hoje em dia, seja pelo excesso de opções, seja pela falta de opinião própria, muita gente acaba deixando para uma dessas listas escolher tudo quanto é produto. Basta entrar em site de compras para encontrar aquelas classificações que vão de uma a cinco estrelas. O problema é que essas notas são, quase sempre, a média de umas três ou quatro opiniões, nem sempre confiáveis. Se você vai comprar um carro, é a mesma coisa. Alguém vai dizer que determinado modelo é a compra do ano da revista X. Ou que tem melhor custo-benefício de acordo com jornal Y. E por aí vai: tal CD é o mais vendido nos EUA, aquela eletrônico é o mais popular no Japão, o vinho "sei lá o quê" é o melhor do mundo. Ai de você se der uma opinião oposta a maioria. No mínimo vão te acusar de ser do contra, se bobear até esnobe.
Porque não dá mais para gostar pura e simplesmente. É a cultura do só se gostar do melhor ou as vezes, do pior. O médio nem é citado. O que não condiz com a realidade, porque na média a vida é isso mesmo, média. A mediocridade é o normal. Nossos dias são na maioria médios.
Aliás, é a dificuldade em aceitar o médio de bom grado que dificulta nossas vidas. Queremos sempre do melhor e do excelente. Por isso quem não é número um acaba sofrendo com cobranças, em especial aqui no Brasil. Daí o calvário de um Rubinho Barrichello, de uma seleção brasileira vice-campeã, de um Gustavo Kuerten decadente. Se não é o melhor, não se é nada.
Dá até para entender a psicologia. Porque se não há chance de ser o melhor, então nem vale a pena tentar ser o número vinte.
Pena.
Porque um país melhor depende de mais gente que queira ser número vinte, oitenta, cem. Não de quem só aceita ser o número um e não conseguindo, desiste. Mas de quem se esforça para ser o melhor que consegue e assim dá sua contribuição para o conjunto da obra.
A vida também é assim. A gente tem mais chance de ser feliz se, tentando o máximo que se pode, fica feliz com o melhor que se consegue.

Um comentário:

  1. Adorei o texto.
    concordo 100% com vc.
    Sobre a mídia, está sempre impondo, enfiando goela abaixo.
    E sobre as pessoas que nem tentam ser a numero 20... É como vc disse, não é valorizado. O nosso país nem valoriza e nem motiva.
    Os poderosos não têm interesses de que o país cresça, só pensam neles e em manter seus bolsos gordinhos.
    Bjss

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