Aquela noite não tinha nada de especial, só uma saída com as amigas para uma festa do tipo "não sei quem conhece o dono da casa".
Por isso a menina nem ia se demorar muito na frente do espelho, só ajeitar o cabelo que já estava sedoso e perfumado.
Mas joga pra lá, joga pra cá, ela reparte as mechas e avista o intruso. Um único fio de cabelo branco, que, meio retorcido, constrastava com o restante da cabeleireira de comercial de shampoo.
Num primeiro momento o fio branco solitário até sumiu, forçando a menina a apertar os olhos para encontrar de novo o danado.
Mas fio branco, principalmente o primeiro, é vaidoso, egocêntrico, teima em aparecer. Não foi difícil pinçá-lo entre os "saudáveis".
Logo o fio era uma presa fácil entre os dedos da menina e, se tivesse um rosto, a gente veria aqueles olhos de súplica do cabelo pedindo por sua vida, ou melhor, restinho de vida.
Só que a menina hesitou.
Um devaneio inesperado fez com que ela freasse seu ímpeto assassino e poupasse a vida do fio.
Afinal, aquele não era um fio qualquer.
Deus sabe quantos viriam na sequencia - tomara que poucos - mas aquele era o fio da virada. Da passagem. Da mudança. Da transformação.
Ou sei lá como deveria chamar o processo.
Poderia ser até a síntese do sofrimento acumulado nos seus poucos anos de vida. Da boneca que sumira. Das brigas familiares. Da primeira desilusão amorosa.
Ela só sabia que por ora deveria preservá-lo.
Depois até podia arrancá-lo, para guardar numa caixinha de veludo.
Mas naquela noite ela só o escondeu lá no meio dos outros.
E pra que ninguém visse, amarrou um lenço na cabeça.
Era um segredo que queria guardar por enquanto, até das amigas mais íntimas.
Que a essa altura não paravam de bater na porta do banheiro, impacientes.
Mas que tivessem paciência, ora essa.
Não é toda hora que a gente acha o primeiro fio de cabelo branco da nossa vida.
E melhor do que isso, não é toda hora que a gente percebe supresa que ele nem pesa tanto assim.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
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