terça-feira, 11 de agosto de 2009

Meus dois pais

Domingo passado foi dia dos pais.
Acordei sábado, pensando em desistir de ir a cidade do meu velho. Mas não consegui.
Pensei "ainda tenho pai, preciso ir dar um abraço no meu". E fui.
E como o coração tem sempre razão, não me arrependi.
Hoje meu pai não é mais aquela fortaleza de antes, o cara forte que esbanjava saúde toda quarta-feira, jogando pelada com os amigos.
Está velhinho, 70 anos nas costas e um príncípio de catarata nos olhos.
Ele que teve uma boa condição financeira quando na ativa, hoje está vivendo de aposentadoria oficial. Merreca.
É duro ver seu pai envelhecer.
Porque você não espera que isso vá acontecer um dia.
Não era o combinado.
Inverter os papéis? Como assim?
Mas é assim mesmo.
E tem dias, confesso, que queria me esconder debaixo das asas dele, receber um cafuné reconfortante e ouvir através daquela voz forte e grave os conselhos sábios de pai para filho que tanto me consolavam.
Mas sei que não dá mais.
Porque esse pai a que me refiro já não existe.
É o pai que dormiu noites e noites em hotéizinhos de terceira e até dentro do carro, na beira de estrada, quando viajava para prospectar clientes que o recebiam com a porta na cara.
O pai que mesmo endividado comprou as bicicletas prometidas aos seus quatro filhos no natal.
O pai que quebrou sua pequena empresa, mas conseguiu dar a volta por cima e se levantar, como empregado de outra.
E que, começando a vida como operário, dormindo em chão de fábrica, conseguiu fazer muita coisa pela família e por ele mesmo.
Então, nos dias em que estou fragilizado, eu me aconselho com ele.
Eu peço a Deus para ser tão corajoso e determinado quanto ele.
Como aquele pai forte, o de antes.
Ao meu pai de hoje, eu não peço nada.
Só reservo todo meu carinho e compreensão.

3 comentários:

  1. Bonito texto!
    Meu pai também mora longe, também não está forte como antes...
    É muito triste ver isso. Já percebi que os papéis estão se invertendo e que logo, eu farei o papel de mãe e pai. Eles vão se tornando crianças dependentes... Tadinhos. E nós precisamos ter forças, pois eles nos viram crescer e ficar fortes e nós veremos o contrário.
    Que medo. Isso me dói muito.
    É a vida. Cruel como ela só.
    Bjss (estou meio sem tempo, mas vou ler todos os textos!)

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  2. Adorei.
    O Sr. Satão deve ser uma figura.
    Aproveita muito o colo dele, seu bobo.
    Beijoca.

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  3. Lindo texto Sato.
    Bela homenagem.
    Emocionou.
    Seu Satão tem que ter muito orgulho do filho que tem.

    Abração
    Stro

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