quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Liberdade é uma calça
Às 17h30 as duas mulheres já estavam prontas para colocar o plano em ação. Vestidas em suas fardas improvisadas que lhe caíram muito bem - modelo que elas copiaram de fotos de policiais em jornais - elas ensaiavam apreensivas os passos da fuga, como duas atrizes pouco antes da estréia da peça.
Com palavras de incentivo, as outras mulheres do cativeiro davam força, embora estivessem mais apavoradas do que as próprias protagonistas do motim.
Quando a chave girou no trinco, o coração veio à boca de todas, o que inundou a sala de costura com um silêncio funéreo.
Juanita e Mercedes pegaram seus revólveres de brinquedo e tomaram posição de defesa atrás das caixas de material de armarinho.
A porta se abriu e por ela entrou o filho do capataz com um embrulho na mão, um rapaz de seus 15 anos, com camisa de time de futebol e gorro enfiado na cabeça.
Juanita e Mercedes pularam ao mesmo tempo por detrás da caixa e gritaram juntas, as armas de brinquedo tremendo em suas mãos:
- Alto, polícia!
Tremendo foi o susto do garoto, que este nem reparou que faltavam quepes, cinturão e botas, e sobrava sotaque gringo àquelas policiais improvisadas. O rapaz só teve tempo de jogar o embrulho contra as mulheres e sair em disparada pela rua, sem olhar para trás.
Com passos medidos, as duas pseudo-policiais chegaram à porta e colocaram a cabeça para fora, olhando desconfiadas para os dois lados da rua.
A rua com largura de beco estava quase deserta, de maneira que Juanita e Mercedes fizeram sinais para as outras mulheres para saírem atrás delas.
De repente todas estavam inacreditavelmente livres - ainda sem direção a tomar, mas livres.
Com os prédios do Bom Retiro ainda lhe fazendo sombra, Juanita e Mercedes se livraram do disfarce quase perfeito, atirando as fardas dentro de uma caçamba estacionada na rua. Fardas que tinham sido as mais perfeitas peças de roupa costuradas por elas. Perfeição na arte da costura que as colocara em cativeiro e agora, por ironia, as libertava.
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