domingo, 13 de fevereiro de 2011

O jornal saído do forno


Outro dia me liga uma vendedora de telemarketing se anunciando como representante da Folha de São Paulo.
Logo pensei, "lá vem".
Há de chegar o dia em que alguém representando a Folha ou qualquer outro jornal me ligue oferecendo alguma inovação tecnológica do tipo, uma âncora de telejornal holográfica logo de manhã ao pé da minha cama, me entregando as notícias fresquinhas do dia ou quem sabe, algo mais.
Mas a telemarketeira me ofereceu mesmo foi uma "assinatura-cortesia" do jornal por 20 dias, o que prontamente recusei porque há tempos não acredito em cortesias por parte de editoras, cartões de crédito e afins.
Nao vou dizer que não goste do cheiro do jornal saído do forno, pelo contrário, isso me cheira a pura nostalgia de infância, dos tempos em que meu pai folheava as primeiras notícias do dia degustando o café da manhã com aroma de café fresquinho no ar, e eu ali presenciando aquele ritual caseiro que imaginei durar para sempre.
Mas os tempos mudam e hoje, longe do seio familiar, me vejo acordando aos solavancos, quase sempre depois de insuficientes horas de sono, reduzidas pelo trabalho extra, pela leitura ou filme na madrugada ou pelos apelos da noite paulistana.
Cabe à internet a tarefa de não me deixar totalmente à parte do mundo quando chegar ao trabalho, para ao menos não confundir soterramento de mineiro chileno com o de morador de Petrópolis.
Enfim, o ponto ao qual eu queria chegar é que hoje, na ausência do rolinho de jornal "dono da verdade" colocado ao pé da sua porta, me vejo tendo que abrir a página de algum portal e caçar notícias anteriores para saber dos ocorridos da última noite.
Sim, porque por exemplo, num fim de semana em que você acorda meio tarde e desplugado do mundo por algumas doses a mais de vodca ou saquê, invarialvelmente você vai chegar atrasado às notícias.
Por exemplo, hoje, quando acordei e quis saber da classificação ou não da seleção sub-20 às Olimpíadas - ok, ok, admito, é nerdice futebolística, só uso aqui a título de exemplo - já encontrei as notícias subsequentes, como a que diz que houve um flerte de um atleta canarinho com uma jornalista peruana.
Ou seja, a informação anda tão acelerada que, se antes a tv atropelava a mídia impressa, hoje a internet atropela e dá ré em cima da tv.
E eu, que vivo a caçar posts anteriores para entender um pouco do que se passa, admito que gostava daquele cheirinho de jornal recém-saído da gráfico, trazendo em suas páginas a verdade sacrilizada e imutável como testemunho único da noite anterior.
Mas nem por isso vou voltar a assinar um jornal de papel e tinta, daqueles que mancham as pontas dos dedos.
Além de tê-los disponíveis no trabalho assim que puser os pés no ambiente refrigerado do escritório, os periódicos de papel não passam da prova escrita de um tempo em que as notícias dispunham de um tempo razoável para sua completa digestão.
Hoje mal dá tempo de engolí-las, ou pelo contrário, são elas que nos engolem, a nós e ao nosso tempo.

Um comentário:

  1. Hoje um amigo jornalista me mandou um e-mail avisando que sua reportagem investigativa de 2 anos iria sair no Diário de São Paulo. Me vesti, coloquei a guia no cachorro e fui comprar jornal na banca, à moda antiga. Tive que passar por 4 até encontrar uma aberta. Comprei o jornal e voltei para casa bem feliz. Pareceu uma coisa nostalgica a se fazer num domingo. Cheguei, abri o jornal, dei uma lida geral em tudo e cadê o caderno com a matéria do meu amigo? Estava na capa mas a matéria não veio. Simplesmente não colocaram. Então só me restou clicar no link e ver parte da matéria pela internet. Sorry mas jornal escrito não dá mais. E a culpa é deles. Eu bem que tentei. Beijos

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