terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Vivos
Quando saía do escritório hoje, alguns colegas que iam jantar para retornar à labuta, me convidaram para fazer o mesmo.
Apesar de estar com o prazo do meu atual projeto se esgotando, declinei do nada apetitoso convite, sabendo que uma noite de sono poderia fazer mais pela minha produtividade no dia seguinte.
Pude me dar a esse luxo por não estar com nenhuma sangria desatada, e principalmente, por me conhecer.
Chegando em casa, liguei a tv e deparei com uma reprise do filme "Vivos".
Para quem não sabe, é o relato verídico sobre os sobreviventes da queda de um avião nos Andes, que levava um time de rugbi uruguaio para uma partida no Chile.
Em resumo, os passageiros tiveram que comer até carne humana para sobreviver aos 72 dias que ficaram à espera do socorro.
O salvamento só chegou ao local graças à bravura de dois dos sobreviventes, que andaram mais de 100 km pelo deserto branco na esperança de alcançar a civilização.
A certa altura da caminhada, quando um dos dois avista a cordilheira sem fim pela frente, ele diz, exausto "nós vamos morrer, não vamos?".
Ao que o outro responde "não sei, mas se tivermos que morrer, será andando".
Pensei comigo, pimba, acertei em ter voltado para casa.
Principalmente porque ficar no escritório, apesar de minha responsabilidade, não é algo por que eu morreria.
Longe disso.
Aliás, há bem poucas coisas da vida pela qual vale a pena morrer.
Um pai morreria por seu filho, por exemplo.
Fora isso, há infinitamente mais razões para viver mesmo.
Não li o relato de Nando Parrado, um dos que foram buscar o salvamento.
Decerto deve descrever o quanto essa trágica experiência mudou sua mentalidade.
Mas 99.8% de nós - ou algo próximo - não passará por um evento de quase morte antes de chegar o dia da dita cuja.
Corremos risco sim é da experiência da morte em vida.
E não me refiro, por exemplo, ao sentimento do final de um relacionamento.
Faço menção ao tédio, ao marasmo, ao viver sem propósitos.
De alguma forma o acidente foi um ponto de inflexão na vida dos 16 sobreviventes do avião, principalmente dos que foram buscar a salvação.
Por cima das montanhas, decerto eles conseguiram enxergar um horizonte muito mais claro para suas vidas dali para frente.
À grande maioria de nós, que não precisaremos galgar uma cordilheira por nossa sobrevivência, resta conseguir enxergar esse horizonte mais produtivo por cima dos obstáculos do dia a dia.
A não ser que se opte por sentar e esperar salvamento.
Já eu prefiro fazer côro às palavras de Nando Parrado: "se tivermos que morrer (ou metaforicamente, presenciar um projeto pessoal morrer), será andando".
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