domingo, 27 de maio de 2012

Falando sobre Kevin

Confesso que tenho medo de filmes de terror.
O meu temor tem mais a ver com o sobrenatural e menos com assassinos seriais como Jason.
"Precisamos falar sobre o Kevin" não é filme de terror, mas sobre a gênese de um assassino, e que me deixou perturbado.
O tema "psicopatia" não é novo no cinema e, embora não tenha conhecimento técnico, já debati diversas vezes a respeito.
Ainda assim esse filme me intrigou.
Presumindo que eu saiba um pouco sobre essa patologia, e sabendo de antemão sobre a história, quis verificar como a diretora do filme daria pistas do desenvolvimento de um psicopata.
Apesar de algumas cenas onde temas como rejeição, frieza e despreparo foram abordados, difícil colocar no personagem da mãe toda a culpa pelo ocorrido.
Verdade que algumas pessoas não nasceram para ser pais, mas nesse a personagem de Tilda Swinton cumpre bem seu papel de mãe com a irmã de Kevin.
Talvez todos os problemas anteriores, somados à dubiedade da educação de uma mãe fria e um pai adulador possa ter confundido ainda mais a mente perturbada de Kevin.
Mas tudo isso não justifica e explica o todo, já que em alguns momentos a mãe tenta uma aproximação com o filho para se redimir.
Ao final estamos tão confusos quanto ela, na procura de um "onde foi que eu errei".
Não há abuso infantil, nem pobreza, nem grandes traumas.
Tudo acontece no seio de uma família de classe média alta americana, com acesso a boa educação e todos os luxos.
A única coisa que falta é amor, e essa falta se prova fatal.

domingo, 20 de maio de 2012

O desejo de ser igual

Houve um tempo em que o mundo ocidental temeu o comunismo.
Ainda teme, mas o fantasma ideológico já foi muito mais assustador.
Lembra antes da chegada do PT ao poder?
Os adversários assombravam com ameaças do tipo "você terá que ceder um quarto da sua casa a um militante vermelho".
Pois é, o PT venceu, se mostrou tão corrupto quando os outros, e a dialética comunismo versus capitalismo se dissolveu, vide o sucesso comercial da comunista China.
Do ponto de vista sócio-econômico, ainda vivemos uma desigualdade abismal.
Mas no plano ideológico, nem tanto.
O capitalismo do mundo globalizado e principalmente emergente, trouxe a reboque uma sociedade não igualitária, mas igual.
Igual nos hábitos de consumo, no jeito de pensar, na opção pelo óbvio.
Não que não exista a distinção, até porque o culto à celebridade virou indústria.
É que agora a bola da vez parece queimar nos pés, de tão rápido que passa.
Outro dia mesmo só se falava em Messi nas páginas de esportes.
Mas bastou a desclassificação do Barcelona na Champions para desmascarar a humanidade do semi-deus argentino.
Estrelinhas de novela passam como cometas pelo horário nobre, assim como sucessos musicais do tipo chiclete desgrudam dos ouvidos com uma facilidade impressionante.
Mas isso estaria acontecendo mesmo em maior escala ou é apenas uma suposição de blogueiro sem assunto?
Que a humanidade sempre buscou seu lugar ao sol, não é nenhuma novidade.
Que 7 bilhões de pessoas brigando por um espaço que, pelas previsões do aquecimento global, tende a diminuir, acirra a disputa, é constatação óbvia.
Então é natural concluir que a passagem do bastão tende a se acelerar.
Dentro dessa perspectiva, valerá a pena queimarmos anos de nossa vida em esforços por um ideal?
Observando o pessoal por aí, começo a suspeitar que não.
Para ficar no exemplo do mercado de trabalho, já não vejo tanta gente disposta a repetir os yuppies dos anos oitenta.
Talvez porque a geração atual seja justamente a dos filhos daqueles.
Talvez porque hoje a promessa de sucesso se reduziu a isso, uma promessa.
Não vejo nenhum problema nesse, digamos, conformismo.
Apenas temo que as grandes corporações - como se dizia das ameaças comunistas - esvaziem o valor do indivíduo, em detrimento de um falso discurso igualitário.
Porque esse "conformismo" - e porque não dizer "desejo" - em ser mais um, infelizmente não leva a uma sociedade mais igualitária, principalmente aqui no Brasil, onde os interesses de uma minoria ainda ditam as cartas.
Como disse Alain de Bottom em uma palestra sobre "Meritocracia", precisamos buscar maneiras alternativas de partilhar o pão, porque a divisão de talentos e recursos não é igualitária, ou seja, o mundo não é mesmo justo.